sábado, 12 de agosto de 2006

Eles têm muita fé

Nossa correspondente em Israel conta o drama de um país quase em guerra, mas que acima de tudo não perdeu a fé

Por Letícia Germano - Jerusalém

A situação em Israel é bastante crítica e delicada. Após o seqüestro de um soldado israelense em uma das bases militares ao norte de Israel (fato ocorrido há um mês), o governo resolveu voltar a ocupar Gaza, pois logo depois do ocorrido, os militantes da resistência palestina assumiram o seqüestro do soldado, afirmando que ele estava tendo atendimento medico, mas também pedindo uma troca pelo soldado: 582 prisioneiros de guerra. Pedido que foi negado pelo governo, já que há quatro anos, esses mesmos militantes seqüestraram três soldados e fizeram o mesmo pedido, mas na hora da “troca", os três soldados estavam mortos. Também é importante salientar o fato de que até agora, não há nenhuma foto ou gravação que mostra que o soldado está vivo.

Recusada a oferta, um outro atentado ocorreu, desta vez matando dois soldados e tendo um seqüestrado e morto em seguida. Todos eles de 18 anos. Horas depois, houve um atentado em Haifa, com um míssil fabricado na Síria, (que subvenciona o Líbano) desta vez, quem assumiu o atentado foi o Hezbollah (grupo terrorista árabe que apóia a causa palestina). O Hezbollah fez o mesmo apelo que os palestinos: “os prisioneiros". Mas, Israel resolveu se defender e atacou o Líbano, acusando também a Síria e o Irã de colaborarem. Ambos os países negaram a afirmação feita pelo governo israelense. Ao mesmo tempo, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, declarou que “os israelenses estavam REPETINDO o Holocausto com os palestinos". Declaração que deixou bem clara sua posição, mas ao mesmo tempo fez rir a muitos, pois este afirmou durante meses que o holocausto durante a segunda guerra não existiu. Enfim, tanto o Irã, quanto a Síria, pediram para ficar fora do conflito.

As pessoas em Israel, com exceção dos cidadãos do norte, continuam a viver normalmente, na medida do possível. Eu, morando em Jerusalém, onde é quase impossível haver algum ataque, pois não somente fica no centro de Israel, mas também existem vários lugares sagrados para os muçulmanos que os terroristas não querem destruir, vejo a cada dia que passa que todos estão, não diria com medo, porque a polícia está fazendo um trabalho excepcional, mas receosos, porque homens bombas são parados a cada dia em lugares públicos e diferentes na cidade. Também, o fato de que 100% dos vôos vindos para Israel foram cancelados e que a economia está MASSACRANDO muito mais do que o terror. Parece ridículo dizer, mas as pessoas no norte estão sem casa e aqueles que ainda têm, não podem sair delas, tudo está parado. Após esta guerra, tudo deverá ser reconstruído, mas com que dinheiro se o turismo, que é a maior fonte de renda de Israel, está completamente perdido? Vejo esta realidade de perto. A situação é critica.

Ao mesmo tempo, o governo diz que isso tudo deverá acabar dentro de duas a três semanas. Eu não duvido, porque o exercito está chamando TODA  a reserva: mais de 10 000 soldados. Não só tenho meu namorado que está indo para o front, mas também amigos e todos eles estão felizes de defender o país. A fé aqui é muito grande... Eu, recém chegada no país, tenho lá meus medos, mas fico muito mais segura ao ver que todos estão tranqüilos e também de ver que com tantos mísseis lançados em Israel (quase 400), tivemos menos de 30 mortos e a maioria deles são soldados defendendo o país. Os civis aqui são muito bem protegidos. Meu medo agora?Será que o meu namorado, assim como meus amigos, irão voltar?