quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008




Você já comeu algum alimento que seja geneticamente modificado? Já utilizou na sua cozinha, algo que contenha este tipo de alimento? Antes de responder, fique atento às informações contidas neste texto, não só para saber se realmente já fez, ou mesmo faz uso deste tipo de alimento, mas também para entender como ele está se tornando cada vez mais freqüente no Brasil, seja para consumo humano ou animal. Entenda também as controversas a respeito de toda a polêmica que envolve os transgênicos.


Por Egnaldo Lopes, do JE em Goiânia


Muita coisa está em jogo no que diz respeito aos transgênicos e nem tudo é tão simples quanto parece: quem defende o seu uso, o fazem com argumentos tão convincentes quanto os que o condenam, mas uma coisa ficou bem clara desde quando iniciava minha pesquisa para esta matéria: a população é quem menos tem conhecimento de tudo o que envolve o consumo de alimentos que tem a sua genética modificada; não há informações suficientes para o cidadão formar sua própria opinião ou mesmo para decidir, com segurança, se deve fazer ou não o uso de tais alimentos. Talvez o motivo seja realmente pelo fato da escassez de informações sobre os transgênicos dentre os próprios produtores. Independente disso, a produção de soja transgênica no Brasil cresce cada vez mais; só na safra de 2007/08, 57% de toda a produção de soja no país foi transgênica.



O Greenpeace agiu e deu certo: após uma série de denúncias feitas pelos ativistas em 2005, o Ministério Público de São Paulo entrou com uma ação civil pública em decorrência da não rotulagem nos produtos produzidos pelos óleos de soja das marcas Soya e Liza, fabricados pela Bunge e pela Cargil, respectivamente. A ação proposta pelo MP foi no intuito de exigir a rotulagem nas embalagens de tais produtos sejam de quais marcas forem, uma vez que a soja utilizada é transgênica e conforme um decreto que completa cinco anos em 2008, tais produtos [se contiverem mais de 1% de transgênicos] devem conter um símbolo padrão que permita a sua identificação. Uma ordem judicial determinou que os fabricantes dos óleos colocassem o símbolo em seus produtos e agora no início do ano, a Soya colocou no mercado as primeiras embalagens de óleo de cozinha produzidos a partir de soja transgênica devidamente rotulados. Nem todas as marcas obedeceram ainda a determinação da Justiça. Para o Greenpeace, o problema dos transgênicos não se restringe ao fato de não serem comprovadamente alimentos que não causem nenhum tipo de malefícios à saúde do homem, mas também pelo possível prejuízo que possam causar ao meio ambiente.

Pra que não fique dúvida: alimento transgênico é aquele que passa a ter um gene que não pertencia ao seu organismo, mas a outro. E a produção acentuada deste tipo de alimento, sobretudo a soja, dá-se, principalmente, para torná-los resistentes a herbicidas, ou seja, fazer com que a produção não seja afetada pelos produtos químicos utilizados para matar as ervas daninhas. A idéia é interessante, sem dúvida, porém há quem tema as conseqüências da produção de transgênicos, mas nem de todos os tipos: é o que explica, em entrevista ao JE, o geneticista e professor da UnB, Nagib Nassar, Mestre em Genética pela Assiut University (1965) e PhD em Genética (co-major em botânica) pela Alexandria University (1972) e que a convite do ministério das relações exteriores, e dentro de um acordo cientifico bilateral veio para o Brasil em 1974: “Não podemos generalizar. O que nos opomos é ao transgênico Bt (Milho Bt, algodão Bt; e culturas Bt etc). O gene Bt introduzido a certa cultura torna essa cultura venenosa aos insetos que a atacam, também a cultura fica venenosa ao próprio homem. Além disso, o fluxo genético entre a planta Bt e as ervas daninhas cria ervas gigantes tolerante aos inseticidas. As plantas Bt ainda deixam no solo resíduos que destroem bactérias úteis como a azotobacter tornando a área inútil para cultivo de leguminosas fixadoras de nitrogênio”. Os transgênicos Bt são aqueles que incorporam ao organismo o gene da bactéria Bacillus thuringiensis que confere à própria planta uma proteção natural.



E as conseqüências de uma possível legalização desta tecnologia podem ser assustadoras: “Se culturas Bt foram autorizadas, esperamos casos de alergia fatal, ervas daninhas gigantes e resistentes aos inseticidas, fracasso da produção com plantas leguminosas e gramíneas, isto se reflete muito sobre agricultura familiar. Esperamos ainda toxicação da flora e fauna e desaparecimento de insetos úteis como as abelhas, mais ainda há muito perigo a indústrias agrícolas baseadas sobre mel de abelhas.”, ressalta o professor.

Nem tão especifico quanto o professor Nagib Nassar, a Comissão Pastoral da Terra faz coro ao Greenpeace: “[...] há total ignorância quanto aos possíveis riscos que tal cultivo pode trazer ao meio ambiente e à saúde humana. Por isso, o princípio ético da precaução exige que se façam estudos profundos e independentes que possam garantir que os transgênicos não oferecem qualquer perigo. [...] por trás do cultivo dos transgênicos, sobretudo da soja, se escondem interesses poderosos de grandes empresas que pretendem controlar toda a cadeia alimentar, desde a produção, até o consumo. [...]”, diz em artigo oficial publicado no site da CPT. Na última terça-feira, dia 12, o Conselho Nacional de Biossgurança confirmou a decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a CTNBio, por quatro votos a sete, sobre a liberação do plantio e comercialização do milho transgênico no país, algo que antes era permitido somente para a soja e o algodão. As variedades de milho autorizadas são a Guardin, produzida pela Monsanto, resistente a insetos e a Libertlink, produzida pela Bayer, resistente a herbicidas contra ervas daninhas.




Outro professor de genética da UnB, César Grisolia, disse em entrevista ao G1 que “Muitos alimentos têm componente de soja transgênica e nem por isso causam algum mal à população”, argumento que não basta para a população se informar. Sem dar maior relevância alguma a qualquer das partes interessadas ou não na produção de transgênicos, fica a sensata Declaração dos Bispos acompanhantes da Comissão Pastoral da Terra: “não se trata de travar a ciência ou a pesquisa, nem de provocar medo paranóico perante o novo. Pelo contrário, defende-se o mais amplo espaço para a ciência e a pesquisa; orientadas, porém, para o bem comum. As aplicações tecnológicas que impliquem riscos potenciais de grande envergadura precisam ser decididas, aprovadas, negadas ou aperfeiçoadas a partir de decisões democráticas e sob controle do povo”. Porém, as decisões democráticas, isto é, aquelas tomadas pelo povo, precisam se basear em informações suficientes a proporcionar uma reflexão mais precisa por parte daqueles que têm o direito de escolha, ou seja, essa escolha tem que ser feita após um debate promovido pelo próprio governo que tem que chamar para si a responsabilidade de esclarecer a população.