Por Caíque Gonçalves, crítico de cinema do JE
O mais novo filme de Denys Arcand encerra trilogia precedida por "Declínio do Império Americano" e "Invasões Bárbaras". O filme se passa em Montréal, Canadá, após o império americano ter desabado e com a chegada dos imigrantes (Invasões Bárbaras).
Jean-Marc Leblanc (Marc Labréche) é um funcionário público totalmente desiludido com sua vida, em todos os aspectos. Não gosta do trabalho, tem uma relação nada íntima com suas filhas, não se relaciona sexualmente com sua mulher há um bom tempo. O personagem vai buscar alívio desta rotina entediante se masturbando diariamente e tendo fantasias eróticas.
O diretor nos mostra que a sociedade atual caminhou para a total abstração no que tange às relações humanas. A interação homém-máquina se apresenta de uma forma muito interessante, através de telefones celulares, i-pods, jogos eletrônicos. É imposta uma cultura de isolamento tecnológico, no qual os novos aparelhos funcionam tanto como intermediário na comunicação, como substitui as relações humanas.
Com a morte da mãe, Jean-Marc Leblanc se desespera completamente, pede demissão do emprego e caminha para o total isolamento, ele não vê mais sentido para existir, se sente inútil, se cansa de escapar da realidade através de seus sonhos e ilusões. O longa aborda primordialmente o caráter escapista desta geração, a fuga da realidade se configura como o único caminho possível, diante da ordem das coisas.
A Era da Inocência não é tão bom como seus antecessores, é mais leve, menos satírico e cômico e não crítica tanto o modo de viver contemporâneo, obviamente de forma intencional. O filme como a sociedade que ele mostra é pessimista e melancólico, mas vale a pena, apesar de não ser um filme fácil de gostar, afinal, a desilusão é o seu caráter mais latente.
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