
Podemos ser mais felizes mudando coisas básicas e simples em nosso cotidiano, de maneira realista? A partir desta edição você começa a acompanhar uma série de reportagens sobre o assunto. Da sua alimentação à sua religião, você descobrirá que é possível sim ter uma vida muito melhor.
Por Fernando Galacine, do JE em São Paulo
Qualidade de vida não é a mesma coisa para todo mundo. A sua opinião sobre o que é viver bem, pode ser bem diferente da idéia do seu vizinho e mais diferente ainda do conceito de uma pessoa vivendo em outra cidade, ou país. Isso não significa que estejam errados, mas não há garantias que esses conceitos não entrem em conflito. Em São Paulo, a maior metrópole do Brasil, esses conflitos são pontuados justamente pela diversidade que a cidade apresenta. E o resultado todo bom paulistano já conhece: nas ruas, o trânsito caótico onde motoristas não dão mais seta, fazem ultrapassagens à direita e até caminhões andam na faixa da esquerda, parece não impressionar mais quem está dentro dos carros. Quem opta pelo transporte público também não escapa da falta de educação. Ônibus, metrô e trens hiper-lotados com centenas de passageiros que, mesmo estando colados uns aos outros, parecem viajar dali com seus MP3 grudados aos ouvidos, nem sequer ouvindo um ‘com licença, eu quero passar’ do passageiro ao lado.
O paulistano em geral se irrita, mas sabe que isso não é exclusividade da terra da garoa. No entanto, em lugares onde a falta de educação da população está a níveis alarmantes, como os daqui, os governos locais têm investido, e muito, nos esquadrões das boas maneiras. Em plena ameaça à tranqüilidade do modo de vida japonês, a prefeitura de Yokohama criou uma força policial de aposentados para combater a falta de cortesia dos japoneses mais estressadinhos. Dentro dos ônibus e nas plataformas do metrô, os policias terão a missão de constranger quem não ceder seus lugares a mulheres grávidas, idosos ou deficientes e até mesmo quem fala alto ao celular. “Isso simboliza o colapso da mentalidade japonesa e mostra que chegamos ao ponto em que as pessoas não têm mais consciência da mais básica etiqueta” afirmou o psicólogo Taizo Kato, da Universidade Waseda, para a revista japonesa Yomiuri.

Metrópoles são enormes, e geralmente os problemas de cada uma delas também são. Nem todos, claro, se resumem ao trânsito, mas também atrapalham muito a qualidade de vida de cada cidadão. Porém a principal questão não são os problemas em si, mas a maneira como cada pessoa lida com eles e tenta solucioná-los. Seja por interesse próprio, seja para simplesmente ajudar a outras pessoas. E é justamente aí, na maioria dos casos, onde nada acontece. “São Paulo sempre teve um estigma de ser, ao mesmo tempo, uma terra para todo mundo e uma terra de ninguém, era uma questão cultural pessoas não se importarem em fazer algo pela cidade” afirma a Érika Vieira, editora do site de jornalismo comunitário da Folha de S. Paulo, em entrevista ao JE Informa. Mas segundo Érika o pensamento do cidadão em relação à cidade, vêm mudando nos últimos tempos. “Hoje o paulistano pode ser considerado participativo. Os movimentos que surgem para fazer coisas das mais diversas para a cidade e para a população estão cada vez mais comuns no cotidiano de São Paulo” completa. Movimentos como “Nossa São Paulo” ou “São Paulo Minha Cidade” são dois bons exemplos de movimentos que se iniciaram na internet, em prol da qualidade de vida na capital paulista.

Parece balela, mas não é. Estudos mostraram que ajudar alguém faz muito bem à saúde. O psicólogo norte-americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, mediu em laboratório os níveis de ondas cerebrais no momento em que pessoas praticavam atos considerados positivos, como ajudar um idoso a atravessar a rua, ensinar algo útil a uma criança ou mesmo ser educado e simpático com pessoas do ambiente de trabalho, pode elevar os níveis de bem-estar e felicidade por até dois meses. E quanto mais atitudes positivas forem feitas num único dia, mais esse nível se eleva e por mais tempo. Além disso, essa sensação de bem-estar, ocasionada por essas atitudes, ativam várias regiões do cérebro, uma delas, o córtex pré-frontal esquerdo, pode fazer maravilhas no organismo da pessoa, inclusive melhorando significativamente o sistema imunológico. Com tantos benefícios que coisas bem simples podem fazer, é bem provável que você esteja se perguntando por onde pode começar. E isso é o que não falta.

Você pode visitar uma escola pública do seu bairro, por exemplo, e em conjunto com a direção da escola se oferecer para ensinar o que você sabe fazer de melhor. Um músico, poderia reunir instrumentos musicais nas comunidades e ajudar a formar pequenas bandas. Assim como um cartunista poderia dar aulas de desenho para a criançada. Se você mora em prédio, faça reuniões em seu condomínio para organizarem pequenos eventos e doar o arrecadado a instituições ou mesmo a famílias mais carentes. E mesmo que o seu trabalho, ou os seus estudos, impeçam no momento que você pratique essas ou outras idéias, não custa nada começar termos mais educação seja no trânsito ou fora dele, termos mais simpatia com as pessoas que passam perto da gente nas várias calçadas da cidade, e até incentivar os pequenos comerciantes do seu bairro. Não podemos mudar o conceito que cada pessoa tem sobre qualidade de vida, mas quem sabe com exemplos melhores vindo de todas as partes, não seja possível viver muito melhor, mesmo com todas as diferenças.

Movimento Nossa São Paulo
São Paulo Minha Cidade
Bicicletada - Curitiba