segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Barack por Obama

Por Barack Obama

(...)Que meu pai não se parecia nada com as pessoas em torno de mim -- que ele era negro como piche, e minha mãe, branca como leite -- mal foi registrado por minha mente. Na verdade, só me recordo de uma história que se referia explicitamente ao assunto de raça; à medida que eu crescia, ela se repetiria mais frequentemente, como se tivesse capturado a essência de moralidade que a vida de meu pai havia se tornado.

De acordo com a história, após longas horas de estudo, meu pai foi se encontrar com meu avô e vários outros amigos em um bar de Waikiki. Todos estavam alegres, comendo e bebendo ao som de uma guitarra típica havaiana, quando repentinamente um homem branco disse ao garçom, bem alto para todo mundo ouvir, que não se deveria tomar uma boa bebida "perto de um macaco". Houve um momento de silêncio, e as pessoas se voltaram para olhar meu pai, esperando uma briga.

Em vez disso, ele se levantou, caminhou em direção ao homem, sorriu e começou a discursar sobre o absurdo do fanatismo e da intolerância, a promessa do sonho americano e os direitos universais do homem. "Esse sujeito se sentiu tão mal quando Barack terminou", disse vovô, "que ele tirou 100 dólares do bolso e deu a Barack na mesma hora. Pagou todas as nossas bebidas e puu-puus [espécie de tira-gosto típico da cozinha havaiana] pelo resto da noite - e também o aluguel do seu pai pelo resto do mês".

Quando entrei na adolescência, passei a duvidar da veracidade dessa história e a deixei de lado com todo o resto. Até que, muitos anos depois, recebi um telefonema de um nipo-americano que dizia ter sido colega de faculdade de meu pai no Havaí e que, agora, dava aulas em uma universidade no Meio-Oeste dos Estados Unidos.

Ele foi muito educado, embora estivesse um pouco envergonhado por sua impulsividade. Explicou que havia lido uma entrevista comigo em um jornal local e que a menção ao nome de meu pai havia lhe trazido de volta muitas recordações. Então, durante o curso de nossa conversa, ele repetiu a mesma história que meu avô havia me contado, a história de um homem branco que havia tentado comprar o perdão de meu pai. "Nunca me esquecerei disso", disse-me o homem ao telefone; e na sua voz ouvi o mesmo tom que eu tinha ouvido do meu avô tantos anos antes, aquele tom de descrença -- e de esperança. (...)


Obama, Barack. A Origem dos Meus Sonhos, ed. Gente