Um retrato do país que cresce e suas projeções para o futuro.
Em meio a tantas notícias envolvendo a economia e a política do país, o JE apresenta um retrato do que realmente está mudando na vida do brasileiro e o que pode ser feito para que os efeitos concretos da economia possam ser sentidos e, o mais importante, permanecerem independente das mudanças e turbulências políticas que podem estar em iminência.
Por Egnaldo Lopes, do JE em Goiânia
Sem corte de gastos, pelo contrário: ampliação da Bolsa Família (número de beneficiados e do valor do benefício), uma realidade que fazia a maioria dos analistas considerar insana e oportunista a previsão de crescimento do país em no mínimo 4% feita pelo ministro da fazenda, Guido Mantega, no início do ano. Hoje, até os mais conservadores admitem um crescimento de pelo menos 4,5% a ser registrado pelo PIB no ano de 2007. Notícias que estiveram em todas as mídias durante o ano empolgaram até mesmo quem não entende o efeito prático de um maior crescimento da economia do Brasil: exportações em alta, recordes de investimento estrangeiro, a blindagem do país em plena crise econômica dos Estados Unidos que afetou o mundo inteiro, e os cortes sucessivos na taxa básica de juros.
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgou no início do mês sua nova projeção para o crescimento do Brasil: 4,8% em 2007; a previsão feita em Junho era de 4,4%. A OCDE também fez a previsão do crescimento mundial: 2,3%, uma redução em relação a anterior, também feita seis meses atrás: 2,8% para o crescimento da economia do mundo. Como explicar o crescimento do Brasil que ao mesmo tempo não abre mão da política assistencialista dos programas sociais do governo? O que tudo isso afeta na vida prática do brasileiro?
A crise política que ganha, a cada ano, capítulos especiais (vide Renan Calheiros), dá a visão geral de que o país está afundado num mar de lama em que não adianta mais fazer nada, enquanto cidadãos de bem, para mudar a situação do Congresso Nacional que parece ter se esquecido de sua principal função: legislar. Não fossem estes acontecimentos a tomar conta dos principais noticiários do país, a impressão geral seria a de que estamos vivenciando um momento de grandes conquistas na economia e na vida prática de muitos brasileiros. Por outro lado, não podemos esquecer de ressaltar que mesmo numa economia que cresce mais, o brasileiro ainda vivencia na prática o que os dados alarmantes apontam: a saúde, a segurança e a educação ainda estão dentre os principais problemas do país.

O BNDS divulgou no dia 6 de Dezembro os dados do Índice de Desenvolvimento Social que apontou para uma melhoria da renda, da saúde e da educação do Brasil durante o período que vai de 1995 a 2006, o fator principal é realmente a melhoria da renda e uma maior distribuição desta: no Nordeste, o valor da renda dobrou. Não se pode negar o avanço nas diversas áreas durante os últimos dez anos, mas a realidade do brasileiro demonstra que não podemos nos impressionar com números e nos acomodar com uma situação nada cômoda: o Brasil caiu quatro posições no ranking de educação da Unesco, estávamos na 72ª posição e ocupamos agora a 76ª. E no relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), divulgado em Novembro, o Brasil aparece em 54º lugar num ranking de 57 países, o que rendeu o pior lugar dentre todos os da América Latina.
Em entrevista ao programa ‘Entre Aspas’, da Globo News, o gerente de projetos em educação da FIRJAN, Luís Arruda, disse que “O problema principal que está sendo colocado é que a gente está com uma política de educação que não privilegia o professor. E aí, na medida em que eu não tenho uma política boa de formação do professor, eu tenho efetivamente dados que vão resultar nessa avaliação do aludo.” E acrescenta: “A culpa não é do professor; a culpa é do sistema que não permite a formação do professor ou não estimula a formação dos professores, ou a especialização desses profissionais. [...] Com relação aos investimentos, acho que a gente pode perder esse bonde da história. A gente tem investimentos muito fortes; o Brasil está apontando claramente que deseja o desenvolvimento, mas o desenvolvimento não é, no nosso entendimento, simplesmente crescer PIB; o desenvolvimento é muito maior do que isso e se a gente não tiver a atenção devida pra esse momento, a gente vai perder esse bonde. Por exemplo, numa pesquisa que nós fizemos na Federação [das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – FIRJAN], no âmbito nacional, aponta com clareza a decisão dos empresários em investir forte nos próximos oito anos e gerar muitos empregos nos próximos oito anos, mas em contrapartida esse emprego vem atrelado a um aumento de uma escolaridade de nível técnico e o Brasil não está pronto pra oferecer esse número de profissionais formados e com qualidade. [...] Se a gente não tiver essa formação de nível técnico pra suportar a nova forma de produção, a gente não vai conseguir acompanhar o desenvolvimento”.
Luís Arruda defende, então, como medida a ser tomada em curto e médio prazo, a melhoria da educação para formação técnica dos brasileiros, e como medida em longo prazo, melhorar a educação básica do país. Por certo, são posicionamentos a serem observados pelo país que parece ter encontrado o rumo do crescimento da macroeconomia, já que segundo pesquisa da Ciano Investimentos, 1% a mais de trabalhadores qualificados equivale a 1,9% a mais de capacidade de produção.

Outra informação que chegou com alarde foi a de que o Brasil é um país mais desenvolvido segundo a divulgação do IDH, mas estamos na última colocação dentre os países mais desenvolvidos do mundo, sobre isso o assessor especial em Desenvolvimento Humano do PNUD, Flávio Comim, disse, também em entrevista ao Globo News, que “Ele [, o IDH,] nos ajuda a pensar pro futuro de uma maneira crítica, e pensar de uma maneira crítica significa realmente escancarar as principais deficiências [...] pra pensar como; de que maneira; usando que mecanismos, que instrumentos você consegue mudar as perspectivas de longo prazo do país, pra que você consiga reduzir essa pobreza, reduzir essa desigualdade multidimensional. [...] A minha preocupação é que a gente está desperdiçando esse momento. O que eu tenho visto é que as pessoas têm desconsiderado... Mais do que a percepção de que já ganhou, quase toda a mídia tem desconsiderado a importância do IDH. Mas jogar o IDH fora é jogar fora toda a família de indicadores de desenvolvimento de gênero, de pobreza humana; significa você cair na armadilha do crescimento econômico como única maneira de você promover o bem estar da sociedade. E esta é uma alternativa condenada ao fracasso.”
Pensar em desenvolvimento econômico é também pensar em desenvolvimento social, mas é claro que o primeiro reflete também maiores investimentos sociais que permitem o aumento do poder de consumo dos brasileiros, mas não se pode deixar de pensar em investimentos mais fortes na educação e na saúde pública do Brasil; garantir o básico para a sobrevivência digna e mais igualitária entre os brasileiros naquilo que é de direito a qualquer ser humano. Mas os resultados apresentados até agora animam e indicam que muita notícia boa pode estar vindo por aí: divulgado no último dia 12, o PIB do terceiro trimestre cresceu 5,7% comparando-se ao mesmo período do ano passado, é a maior alta desde o ano de 2004. No comentário de Mirian Leitão feito no Bom Dia Brasil, foi ressaltado que a indústria e o poder de consumo dos brasileiros impulsionaram esse crescimento e que o investimento dos empresários aponta para a continuidade desse crescimento nos próximos anos. A divulgação do crescimento do país no ano deve revelar mesmo ser este de 5%, ou até mesmo maior.

Além dos programas assistenciais serem um fator importante, especialmente no que se refere à população de baixa renda, esse aumento do poder de consumo dos brasileiros é reflexo também da criação de novos empregos: Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Fiesp, disse também no dia 12 que a criação de emprego industrial deve bater recorde este ano, uma alta de 7,5%, ou seja, aproximadamente 160mil novos empregos. No acumulado de Janeiro a Novembro, todos os empregos formais criados no país somaram juntos 1.936.806 novos postos de trabalho, outro recorde em criação de empregos segundo o cadastro feito pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado pelo Ministério do Trabalho.
O jornal Folha de São Paulo divulgou num domingo, dia 16 de dezembro, que o crescimento mais acentuado do país nos últimos dezessete meses fez com que 14milhões de brasileiros saíssem da classe D/E, é o que indica a pesquisa feita pelo instituto Datafolha. Segundo a pesquisa, esse movimento revela ainda que, nos últimos cinco anos, o número de brasileiros que saíram da classe D/E e migraram para a classe C foi de mais de 20milhões, ou seja, a pesquisa concentrou-se no governo Lula e demonstra que, no início, essa mudança do padrão de vida dos brasileiros era dada principalmente pelos programas assistenciais e, agora, o impulso maior é do crescimento econômico. Dois dias depois, o Banco Mundial divulgou a lista das maiores economias do mundo em capacidade de compra e o resultado mostrou que o Brasil ocupa o sexto lugar, ao lado de França, Reino Unido, Rússia e Itália.
Com o fim da CPMF, o ministro da saúde, José Gomes Temporão, disse que o país saiu perdendo, pois com a perda de 40 bilhões de reais no orçamento para o ano de 2008, Temporão afirma que a saúde será a mais prejudicada com a decisão do Senado Federal: o governo tinha formalizado a proposta de reverter todo o dinheiro do imposto do cheque para a saúde pública do país. "O impacto maior será diretamente nas Santas Casas e outros hospitais filantrópicos, hoje bastante endividados", afirmou o ministro. Esse tipo de pensamento não pode ser aceito num país que deseja crescer; não se sabe se o que faltava ao governo era apenas ‘arrumar a casa’ para saber como investir melhor o dinheiro público ou se realmente o dinheiro da COMF era fundamental para o país, mas o governo tem que saber administrar com competência essa situação de modo a não afetar o que é básico para a saúde pública brasileira. O atendimento público nos hospitais já é precário, a saúde já vive uma crise, mesmo com investimentos da CPMF. Não dá pra imaginar como ficar pior e o governo não deve cogitar esta hipótese. Tomara tenha sido mesmo apenas uma tática para convencer a oposição a votar pela prorrogação do imposto.
Saber como lidar com os problemas, inclusive a falta de dinheiro, será o desafio do governo Lula, e dos que o sucederem nos próximos anos, para que possam mostrar que as boas notícias que se apresentam hoje na economia não são apenas momentâneas e passageiras, mas reflexo de uma política econômica criticada por muitos ex-aliados, agora oposicionistas, mas que se revela capaz de aliar o desenvolvimento macroeconômico do país e o investimento em programas sociais que, independentemente das críticas, são capazes de movimentar a economia em lugares mais afastados das grandes metrópoles, aumentando a renda dos brasileiros em todos os níveis sociais. Porém, o país precisa de muito mais para poder crescer com responsabilidade, não fiscal, mas social. Um país que ‘cresce’ sem investir consideravelmente em saúde e educação, o que se vê no Brasil, não é responsável. A recente descoberta de petróleo na Bacia de Santos é mais um sinal de que o país, se quiser, pode se tornar uma potência nos próximos anos, mas tudo depende de como nós iremos lidar com essas descobertas e novos fatores, muitas vezes desagradáveis para o governo (vide CPMF), ou seja, como é que o governo investe o dinheiro público e como é que a população acompanha todo esse processo de mudanças vivenciado pelo país. A torcida é que tais mudanças sejam para melhor e que os brasileiros não acompanhem tudo nos bastidores, ou seja, que não fiquemos apenas na torcida.
Veja um vídeo do portal de notícias G1, sobre o assunto. Clica aqui.