quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Bate papo - Nesta edição com Denis Russo

A Super Interessante, maior revista mensal do país é um fenômeno nas bancas e para a maioria dos adolescentes e adultos é uma das melhores do Brasil. O JE bateu um papo com o cara que hoje está à frente de tudo isso.






Bate papo concedido ao editor Fernando Galacine

Caricatura por André Marangoni


JE- Você certa vez disse, não sei se em tom de brincadeira, que é bem aventureiro. Você se considera um jornalista que é aventureiro ou um aventureiro que se tornou jornalista?


Ah, eu não sou aventureiro não... (risos). Gosto de ritmo, mas não me considero um aventureiro. Já fiz algumas matérias nesse sentido, já fui até para a Antártida, numa expedição. Mas nada de surpreendente que me leve a ter esse título. Gosto de vir para o trabalho de bicicleta, talvez tenha um pouco de aventura nisso...

JE- Do caderno policial do Diário de São Paulo, a sua entrada na Abril até chegar na Super, conta como foi isso.

Passei três meses no Diário de São Paulo, que na época ainda se chamava Diário Popular, era um caderno meio que independente, não pertencia a nenhum grande grupo. Depois passei uns quinze dias na Gazeta Mercantil e percebi que não era a minha. O ritmo era outro, eu não fazia as reportagens na qualidade que queria. Mas eu tinha acabado de me formar e decidi fazer o Curso de Jornalismo aqui da Abril. Pouco tempo depois eu ganhei um prêmio de um concurso de fotografia e tirei um ano de férias. Voltei como free lancer da Super e gostava disso: não havia compromisso com ninguém. Entrei para o time oficial só em 98.

JE- A Super também é conhecida por adiantar as coisas. Inclusive a sua primeira capa como editor de redação falava sobre o próximo papa. Quinze dias depois o papa João Paulo II bateu a caçoleta. Como vocês miram nos assuntos que ainda vão ser notícia?


Pois é, não existe uma fórmula para se adivinhar o que vai acontecer. Nós lemos muito. Vamos desde Scientific American até a The Economist que não tem muito a ver com o que a gente trata, mas ela sempre adianta muita coisa.


JE- Para você o que a Super tem que a torna tão interessante?


O projeto, que é único. E não é mérito meu, se bem que eu também ajudei, mas há 20 anos ela é assim. Não existe uma outra revista que aborde temas desse jeito. E nós nos esforçamos para que isso continue.


JE- Imparcialidade: você sempre toca neste assunto. A arte de deixar o leitor pensar por si mesmo. O que você acha das publicações que tomam partido? Elas erram por não poderem tratar de assuntos com isenção, ou acertam por mostrarem para o leitor os caminhos que seguem?


Nenhuma revista precisa ser igual à outra, e é isso que as tornam tão interessantes. Cada uma tem o seu estilo, mas o mais importante é que todas sejam honestas. É claro que não existe ninguém totalmente imparcial, e por isso mesmo a Super também não é. Em algumas edições deixamos clara a nossa opinião. A do casamento gay foi uma delas.



JE- Vocês mexem muito com polêmicas, você não fica apreensivo da repercussão que possa ter?


Não tanto, até porque repercussão significa que atingimos o nosso objetivo, que é de divulgar o assunto, fazer com que ele seja discutido de uma forma geral, se a repercussão é boa ou não, depende muito de quem se sentiu atingido.


JE- E já sofreu alguma crítica ou ameaça?


Criticas já, mas não ameaças. É claro que quando você trata um assunto, uma idéia, uma filosofia que seja, sempre haverá pessoas que irão discordar. Cabe a nós, admitirmos quando estamos equivocados sobre certo assunto. Uma vez, acho que essa provavelmente foi a matéria do ano, falávamos sobre a ciência nazista, só que na capa colocamos a suástica e o símbolo da Cruz Vermelha. Em nenhum momento achávamos que aquele símbolo era a representação daquela instituição, imaginávamos como um símbolo que representava a medicina no geral. Depois de alguns dias, recebemos uma carta enviada pela Cruz Vermelha, explicando que haviam ficado chateados com nossa atitude. Na hora enviamos outra carta, pedindo desculpas pelo ocorrido, e nos retratamos depois na revista. Em outra ocasião colocamos uma charge de Maomé numa seção que estreávamos, bem antes daquela rebelião do jornal dinamarquês, recebemos um e-mail de um leitor, que era mulçumano que disse que ficou muito chateado com aquilo. Nossa intenção não é de fazer isso com quem quer que seja. Se pudermos evitar com certeza evitaremos. Fazemos o possível para não errar, mas quando acontece fazemos o possível para nos desculparmos de maneira justa.

JE- Algum ídolo no jornalismo?

Ah, são vários. Mas admiro muito o trabalho do Humberto Werneck e também Joseph Mitchell, que passei a admirar muito depois que li O Mistério de Joe Gould .


JE- Alguma matéria que gostaria de publicar?

Ah, várias. Mas tem uma em especial que ainda vou publicar: minha volta ao mundo de bicicleta... (risos)





© Copyleft

A reprodução do conteúdo desta página é autorizada e incentivada desde
que seja com o consentimento do JE Informa também sendo citado
como fonte com devidos créditos e mantendo um link para a abertura da página.










Editor executivo Fernando Galacine
Editora adjunta Laís Alves

je.informa@bol.com.br www.jeinforma.blogspot.com

Colaboradores nacionais: Chico Neto – Brasília Dauro Veras – Florianópolis Cris Mereu – Belo Horizonte Egnaldo Lopes - Goiânia Fernanda Ramalho – Rio Branco Juliana Feliz – Cuiabá Léli Dornelles - Porto Alegre Lívia Russo – Maceió Bruna Gomes e Gustavo Mello - São Paulo

Correspondentes Internacionais: Aline Lederer –Paris Aline Schuh – Londres Aycha Oliveira – Nova Jersey Clair Busse e Alexandra Baungarten – Breitenbach, Áustria Letícia Germano – Jerusalém Rosangela Brito – Kawasaki, Japão