sexta-feira, 12 de janeiro de 2007



O que leva uma pessoa a por fim na própria vida?

Hélio, cercado por bombeiros, se dependura no alto de um prédio. Luiz, com uma arma engatilhada, a aponta para o próprio peito. Marina, deitada em uma cama, chora ao lado de caixas de comprimidos tarjas preta. Provavelmente, o que você leu, acabou lhe dando automaticamente a impressão de que essas pessoas estavam prestes a cometer atos de suicídio. E realmente, poderiam estar mesmo.
Atos de suicídios, não só aqui, mas no mundo inteiro se dão com tanta freqüência desta forma, que de tão praticadas acabaram se tornando verdadeiras imagens, quase únicas, na visão de quem enxerga o suicídio na calçada que Hélio se jogou, no noticiário que a foto do Luiz apareceu, no hospital em que Mariana foi levada às presas. Mas será que o suicídio é apenas isso? Por um ponto final na vida de maneira tão radical? Será que você, sem perceber, pode aos poucos, estar apertando o botão que põe fim a sua vida?


O fim na história


Não é de hoje que convivemos com o suicídio. Presente em todos os seguimentos importantes da história, o ato de tirar a própria vida pode ser encontrado no final da linha para Judas. O discípulo que teve retratado na bíblia o seu enforcamento, sempre foi colocado pela Igreja como antagonista do Cristianismo, por um ato que hoje o mundo contesta. Mais adiante, em nossa política, a noite daquele 24 de Agosto foi marcada por dois tiros e o fim de uma era: Getúlio Vargas, se suicidava após crises internas em seu governo. Presente, o suicídio também esteve no mundo do rock: quem iria imaginar que alguém se mataria por aversão à fama? A vida para Kurt Cobain não valia mais a pena.
Se hoje o suicídio é condenado veementemente por grande parte do mundo ocidental, a história não foi sempre essa. Na Grécia antiga era o governo quem decidia se a pessoa era autorizada a cometer tal ato, podendo até obrigá-la a fazer o mesmo. No Egito, nos tempos de Cleópatra, o suicídio não era apenas festejado, mas ordenado: ao morrer um faraó, por exemplo, seus escravos deveriam, além de enterrá-lo, permanecerem ali, junto a ele, enterradas até as suas mortes. O tempo passa e chegamos à Idade Média, onde aí sim, o suicídio ganha status de crime, onde até hoje se mantém em alguns países, como na França.



Quem condena?


E não só na lá que o suicídio é considerado crime. Fugindo do código penal, o ato de tirar a própria vida é repudiado pelas mais diversas religiões, entre eles a Católica. Para a Igreja do santo padre o suicídio é um ato de destruição da propriedade alheia, e nesse caso, o outro em questão é Deus. Tirar a própria vida seria ofender e blasfemar contra o todo poderoso. Criador da vida cabe a somente Ele tirá-la. Mas então o que dizer dos extremistas islâmicos, que diariamente vemos em vídeos, profetizando guerras em nome da religião? Suicídio é valido quando a intenção pode ser religiosa? Para o assessor Mohamed Hossein, da Federação das Associações Mulçumanas do Brasil, não.
“O islamismo é radicalmente contra o suicídio, salvo as exceções em que o suicida sofra de doenças mentais, que possam justificar tal decisão. Os extremistas ou terroristas, não são de maneira nenhuma ligados a nossa religião, o que eles fazem é questão política, não religiosa. O islã não permite de maneira alguma tais atos”
Se homens bombas que atacam hoje no oriente médio assustam cada vez mais pelo fanatismo seja ele político ou não, eles tiveram como exemplo homens que hoje fariam parte da nação mais suicida do mundo: o Japão.
A política Kamikaze, criada para tentar derrotar os inimigos na Segunda Guerra Mundial, fez com que a antiga idéia de suicídio, criada entre os samurais, especialmente para defender a honra perante aos problemas impostos pelos inimigos, ganhasse força entre a cultura nipônica. Hábitos que perduram até hoje, com modalidades de suicídio cada vez mais elaboradas, e com motivos cada vez mais torpes.

Ao contrário da França, o Brasil, e a maioria dos países, não considera o suicídio um crime, no entanto há leis, e leis severas, para quem induzir alguém a tirar sua própria vida, que podem aumentar se na indução forem analisados motivos de egoísmo ou vingança da parte do acusado. Leis que se assimilam as do Japão.
Diariamente o governo japonês desmantela grupos que marcam através de todos os meios possíveis locais e datas para um suicídio coletivo que chega a reunir dezenas de pessoas. Entre as práticas mais comuns está a prisão em sala fechada seguida de liberação de gases, que podem ser até os de cozinha. Pensando nisso, e temendo as conseqüências no seu país, o governo britânico, proíbe taxas de toxinas muito elevadas nos bujões desse tipo de gás e também anda adotando cartelas, e não mais frascos, para conterem comprimidos que em grande quantidade podem levar à morte. Isso porque, segundo estudos realizados nessa área, uma pessoa pré-disposta a cometer o suicídio, ao tirar comprimido por comprimido de uma cartela, pode ter mais tempo para pensar no que está fazendo, e por tanto desistir da idéia. Ao contrário da França, o Brasil, e a maioria dos países, não considera o suicídio um crime, no entanto há leis, e leis severas, para quem induzir alguém a tirar sua própria vida, que podem aumentar se na indução forem analisados motivos de egoísmo ou vingança da parte do acusado



Existe motivo?


Talvez você se pergunte por qual motivo alguém poderia colocar um ponto final na própria existência? Os motivos com certeza serão os mais diversos, entre eles há teorias que na verdade o suicídio seria uma forma de comunicação, da qual o suicida não pode, ou não quis fazer durante a sua existência. Isso é sugerido pelos inúmeros bilhetes que pessoas escrevem antes de cometer ,o que para elas, é a última, e mais radical, forma de chamar a atenção para o problema que sofriam, da angústia de não podê-lo contar a mais ninguém, seja por vergonha ou até mesmo por falta de oportunidade de se expressar com quem gostaria. Outro motivo, este analisado a fundo pela psiquiatria, é o fato do suicida se sentir lesado por algum agente externo, seja ele familiar, social, ou até mesmo divergências que em princípio nada tem a ver com o próprio indivíduo. Essa lesão provocada pelo ambiente, faz com que o suicida ataque o seu agressor, seja ele físico, ou na maioria dos casos psicológico. Muitas vezes por ser uma pessoa fragilizada, esse ataque não dá resultado e se volta contra si mesmo: para o suicida, a consciência, que não conseguiu agredir o ambiente é vista a partir de então como a própria causadora do sofrimento. “Na verdade, o suicida não quer se matar, mas sim matar o problema que o aflige. No caso, a consciência é o problema, então, na visão dele, não há como se livrar do problema a não ser pelo suicídio”. Explica a assessora do CVV, Centro de Valorização à Vida, Elaine, que por motivos de sigilo não revela o sobrenome.



Evitar



O CVV, é referência nesses tipos de caso, em que se não amparada, a pessoa pode dar um rumo extremado a própria vida. A instituição, que sobrevive através de voluntários, está disponível 24 horas por dia o ano inteiro, em 2005 recebeu mais de 1 milhão de ligações. O número é um dos maiores da história do CVV, que só teve números mais chamativos em 2003, com um pouco mais de 200 mil ligações do que no ano retrasado. Ao olhar esses números você pode se perguntar: Vivemos num país de pessoas dispostas a encurtarem o desfecho de suas vidas? Ainda segundo Elaine, não: “O que as pessoas fazem ao ligarem para cá, é exporem os seus problemas, como se pudessem desafogar o copo que está transbordando. O médico trabalha prevenindo as doenças com uma vacina, o bombeiro dando instruções para evitar acidentes, o nosso trabalho é esse: de prevenir que a pessoa possa tomar uma atitude radical. Ao ligar, elas expõem suas mágoas, seus desejos, e se sentem confortadas em serem ouvidas, a terem o apoio que muitas vezes não encontram.” Completa Elaine que também diz que é raro chegar alguma ligação de uma pessoa com risco já eminente de suicídio.



Mesmo assim ainda é grande o numero de tentativas realizadas com sucesso quando o assunto é abreviar a própria existência: “56% dos suicídios no país se dão logo na primeira tentativa. De cada quatro pessoas, das outras 44% que não obtiveram seus objetivos alcançados, uma irá tentar novamente no próximo ano” é o que diz a psiquiatra Carolina de Mello, especialista em suicídio, do Hospital das Clinicas, em São Paulo.



Você está se matando?



“ O suicídio é uma violação ao dever de ser útil ao próprio homem e aos outros." Quando o filosofo Rousseau disse isso, provavelmente quis fazer um dura crítica ao suicídio, mas se formos analisar, ao livre entendimento da frase, será que podemos entender o suicídio como simples fato de tirar, de uma vez só, a própria vida? Será que quando deixamos, aos poucos, de sermos úteis para os nossos amigos e familiares e mais importante, quando deixamos de ser úteis para nós mesmos, estamos nos suicidando? O que você pensaria ao ler esta frase?





eu so vomito qnd todos estao dormindo e qnd nao ha ningm em casa... eu axo q todo mundo pode ter ... mas sei lá eu num acredito q eu possa morrer... sou obeso, ainda tem muito o q queimar aki... meninas sao mais faceis d ter... entao, ao inves de vomitar q eh horrivel, das duas 1: nao coma, ou faça muitaaaaaaaaa academia, ou entao faça os dois... com cuidado, tome suplemento qnd nao comer ... pq nao tem nehuma coloria, e vc queima mais facil e nao vai ficar doent pq tem vitaminas, mas nao come o dia todo se vc conseguir... :)





Esta frase pode ser facilmente encontrada no maior site de relacionamentos da internet, o orkut, numa comunidade para anoréxicos e bulêmicos. Você acha que quem sofre desse tipo de doença, mesmo esta não muito fácil de lidar, não está aos poucos se suicidando? A intenção não é explicita, claro, mas não está ai uma forma de suicídio? A ditadura da beleza em troca da vida? O Chamado para-suicídio, ou seja, quando a intenção não é de se matar prontamente, tem como principal causa os transtornos alimentares, que são a sexta maior causa de suicídios no país. Assim como todas as outras causas que podem levar ao suicídio, bulemia, anorexia, depressão ou até algum outro transtorno têm sim tratamento. “É muito raro alguma causa que possa levar ao suicídio não ter como ser tratada. Seja ela com medicamentos, ou principalmente acompanhamentos psicológicos.” Comenta Dr.ª Carolina.



Tudo porque


Talvez por defender uma idéia, ou já não ter nenhuma a mais para defender, possa levar milhares de pessoas a um caminho que tanto aos poucos, ou de uma vez só, pode não ter mais volta. Principalmente com os números entre os jovens aumentando a cada dia, por uma falta de perspectiva, seja ela profissional, social ou familiar e principalmente, por o nosso publico ser formado essencialmente por essa faixa etária. A intenção dessa reportagem, logo no inicio do ano, foi uma forma um tanto séria de chamarmos a sua atenção para a coisa que você tem de mais importante: a sua vida. Ela está aí, pronta para ser vivida, problemas existem, sempre existirão, mas apesar do que possa talvez parecer, você SEMPRE é útil e insubstituível a alguém.