quarta-feira, 9 de abril de 2008

A chama que não une

Para professor da PUC, protestos Pró-Tibete não devem durar após as Olimpíadas.

Por Fernando Galacine, do JE em São Paulo

Ilustração de André Marangoni




Ela é um dos maiores símbolos dos Jogos Olímpicos e sua passagem por diversos cantos do mundo sempre deu ares de integração de todos os povos em prol das Olimpíadas. Mas a passagem da Tocha Olímpica por várias cidades no mundo, começa a ser questionada. Desde que foi acessa na Grécia e viajar à Pequim para dar início à sua trajetória internacional, a Tocha Olímpica teve seu brilho ofuscado por diversos protestos pró-Tibete.

Os londrinos e os parisienses mal puderam notar a fraca chama que chegou a ser apagada, em meio a bandeiras com algemas e berros de manifestantes que gritavam em todas as línguas “Liberdade ao Tibete”. Para o coordenador de estudos sobre a Ásia e o Pacífico da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Henrique Altemani, em entrevista ao JE Informa, os gritos de liberdade para o povo tibetano talvez não façam efeito junto ao governo chinês. “A história da China pode nos mostrar uma freqüente humilhação dos chineses por parte de várias nações do mundo. O Império Britânico, a invasão Japonesa e até disputas com a Mongólia, de onde o governo chinês passou a ter o controle sob o Tibete, em 1792, fizeram com que a Constituição chinesa não aceite sob hipótese alguma, a perda de qualquer parte de seu território.” Para o professor da PUC, nem mesmo os tibetanos querem que o Tibete se transforme num país. Ao contrário de alguns territórios que conquistaram a sua independência recentemente, como o Kosovo, o Tibete não tem um plano de governo. “Já que a China não tem muito controle sobre os seus estados Federativos, o Tibete quer uma maior autonomia da China, mas não a independência.” diz Altemani.

E se nem os tibetanos querem a independência, o pedido de países como a França, Estados Unidos e a Alemanha, cuja Presidente Angela Markel disse que pretende boicotar a cerimônia de abertura dos Jogos, se intensifica no lado humanitário da questão, acusando a China de opressão aos manifestantes tibetanos, em sua maioria monges. No entanto, fica claro que com o forte crescimento econômico da China, esses mesmos países que vetam a postura do governo chinês, são os que se sentem mais ameaçados pelo poder que o país asiático está adquirindo e, na maior parte, com valores muito diferentes aos valores ocidentais. Para Altemani, os protestos em torno da Tocha Olímpica não têm poder de criar um mal-estar tão grande que gere desentendimentos entre as nações quando a Pira Olímpica for acesa, em Agosto.

Na opinião do professor da PUC, assim que os holofotes saírem da China, com o término dos Jogos, é muito provável que os protestos pró-Tibete, senão desapareçam, diminuam bastante. “Se você reparar, esses protestos acontecem em maior intensidade fora da China do que dentro dela. E são gerados em cima da idéia de que monges são quase anjos.” Porém, o COI, o Comitê Olímpico Internacional, diz que se os protestos não diminuírem, ou não forem tão eficientemente barrados, a Tocha poderá ter seu trajeto encurtado. A China não quer, e até pretende passar com a Tocha dentro do território tibetano. Se os monges são quase anjos, talvez por lá, não haja tantos protestos.