segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Olhos abertos

Por Marcus Parmiccato
Para o JE de Xangai

Mesmo se não tivesse exportado absolutamente nada, a economia chinesa cresceria quase o dobro da brasileira no ano passado. Prova de uma economia hiper-aquecida e que vê a baixa no consumo mundial com certa cautela, mas longe do desespero. Com caixa forte, a economia chinesa mostra que a crise internacional pode sim afetar um pouco as suas exportações, mas dentro do país os investimentos deverão continuar em alta. A tensão do sistema capitalista não é muito divulgada fora de grandes centros econômicos, como aqui em Xangai e Hong Kong.

Pelo país adentro, principalmente no interior, a alta do dólar, as quedas das bolsas e os conflitos no mercado financeiro não afetaram o consumo chinês. Não afetaram porque mesmo com a economia chinesas indo muito bem, obrigado, o consumo interno ainda é baixíssimo se comparado com países ocidentais. O chinês é um povo muito cauteloso, que detesta pagar qualquer coisa a prestação, coisas que, aliás, quase nem é usada pelo comércio daqui. Os chineses, ao longo o tempo, aprenderam a cuidar muito bem do pouco dinheiro que ganhavam.

Longe das metrópoles com ares europeus, dinheiro na China quase não existe, no interior ainda usam-se formas de pagamento como o escambo, uma troca de mercadoria pela outra. Geralmente quem é agricultor nem tem muitas opções, é verdade, mas fora isso o Yuan não circula com facilidade pela China esquecida no tempo. Algo que o Governo chinês quer mudar. A reforma agrária, tão almejada no Brasil, está prestes a acontecer.

Pelos planos do Partido Vermelho, cerca de 300 milhões de pessoas deverão sair da miséria, com a construção de verdadeiras megacidades na parte leste do país. Fora isso, a confiança na China, mesmo sabendo-se que ela não pode segurar sozinha a crise internacional, ainda é grande. Tanto que as bolsas chinesas foram as que menos perderam valor durante a onda de quedas nos mercados mundiais, principalmente nos asiáticos. Otimismo que fica restrito a quem lida com esse tipo de informação, ou quem trabalha no governo. Os pacatos chineses ainda compram seus produtos made in china, avessos a qualquer crise.