Por Fernando Galacine
editor do JE em São Paulo
Leis antifumo no mundo todo e uma conscientização cada vez maior contra o tabaco. Pode parecer incrível, mas um cenário como esse ainda continua sendo lucrativo para as empresas tabagistas. Segundo projeções, as corporações ligadas ao fumo crescem, em média, 3% ao ano e hoje são as mais rentáveis no ramo de empresas voltadas ao consumo. A agência de riscos Standard & Poor’s [umas das três mais importantes do mundo e que avalia onde os investidores globais devem ou não aplicar seu capital] sinalizou que as ações da gigante Altria [conglomerado dono de várias marcas, entre elas a Marlboro] era um dos melhores investimentos do ano passado. Isso num ano de crise financeira global, onde gigantes de vários setores pediam concordata, ou simplesmente faliam, no mundo inteiro.
Como explicar o crescimento de empresas com péssima reputação e cada vez mais coibidas? A resposta vem da chamada “tábua de salvação da indústria do cigarro”, em outras palavras, dos seus consumidores fiéis. Enganam-se, porém, aqueles que pensam que o público cativo do cigarro não vem diminuindo, pelo contrário. No entanto, os que restam estão dispostos a arcar com os altos reajustes nas tabelas do preço do cigarro. Nos países desenvolvidos, os cigarros já sofreram aumento de quase 6%, elevando o custo do maço.
Diferentemente do que aconteceu no Brasil, onde o reajuste mais recente no preço do cigarro foi consequência da elevação de impostos cobrados dessas indústrias, para cobrir a redução dos tributos em materiais de construção, o reajuste de preços na Europa, por exemplo, foi feito pelas empresas do fumo.
Arte: JE Informa com informações da Folha de S. Paulo |
Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, houve uma altíssima elevação de impostos para a indústria do cigarro, mas com destinação certa: cobrir os gastos da saúde pública originários do tratamento de fumantes. Com o preço triplicado para o seu produto, a indústria tabagista não teve outra saída senão admitir os males do cigarro para os seus consumidores e esse foi outro fator que permitiu ao menos uma tolerância em diversos países e para boa parte de seus consumidores. “O cigarro vicia e causa doenças graves. Qualquer pessoa preocupada com as conseqüências do produto para a saúde só tem uma alternativa: parar de fumar", assume Amâncio Sampaio, presidente da filial brasileira da Philip Morris, uma das maiores empresas produtoras de cigarro do mundo, à revista Exame.
Em suma, a indústria tabagista cresce apoiada em reajustes de preço nos países desenvolvidos e aumento na vendagem de marcas mais sofisticadas em países emergentes, agora com maior poder aquisitivo. Além disso, assume agora os riscos que seus produtos trazem à saúde, o que ainda assim não parece afastar os seus consumidores veteranos. Resta saber até quando muitos deles continuarão com saúde em dia para se manterem como a tábua de salvação de empresas como essas.