quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Portas fechadas

Dezenas de mortes no Zôo de Goiânia fazem o IBAMA interditar o parque.

Por Egnaldo Lopes,
editor do JE em Goiânia

A população goianiense ficou assustada com a situação do zoológico de Goiânia ao saber que o parque havia sido interditado, no último dia 20 de junho, por 45 dias, prazo que pode ser prorrogado por tempo indeterminado; a notícia veio num período em que há o maior número de visitações, em plenas férias de julho: a surpresa pelo ocorrido é característica do que vem acontecendo nos últimos anos na capital de Goiás, já que as várias mortes ocorridas neste ano, que acarretaram a interdição do parque, não são novidade: até agora já são 49 mortes; em 2008 o número chegou a 50, mas tudo caiu no esquecimento, ou nem veio à tona, uma vez que a maior parte da população não estava inteirada dos acontecimentos.

A preocupação com o meio ambiente ecologicamente equilibrado sempre foi uma das bandeiras levantadas por todos os prefeitos da capital goiana nos últimos anos, mas a situação do zôo mostra que há muito mais que ser feito além dos vários parques ecológicos espalhados por toda a cidade. Não é de hoje que a precariedade do habitat dos animais é perceptível, num espaço pequeno destinado inclusive aos de grande porte e o IBAMA, o Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás (CRMV-GO) e o Ministério Público Estadual são os unânimes ao apontar uma dos principais motivos de tantas mortes: a falta de investimentos por parte do poder público na manutenção e modernização do zoológico.

O tamanho das jaulas é muito pequeno para os animais de grande porte/ Foto: Oladir Coelho, Prefeitura de Goiânia


O atual prefeito, Iris Rezende, desde a época das últimas eleições vem prometendo a transferência do parque para outro local, maior e com maiores condições de abrigar os animais e proporcionar maior conforto aos visitantes. O orçamento? R$ 10 milhões. Insuficiente: é o que declarou o CRMV-GO no último dia 31 de julho em coletiva a imprensa, já que para garantir uma transferência deste porte e a melhor adaptação dos animais seria necessário quatro vezes mais que isso.

Mais dados foram fornecidos nesta coletiva, informando as possíveis causas de tantas mortes: a presença de urubus e pombos a disputar o alimento com os animais do zoológico, acredite, pode ter causado uma série de doenças letais. A falta de pessoal qualificado para a manutenção do parque foi também apontada: a quantidade de zootecnistas, biólogos e veterinários é insuficiente. Não se deve, porém, ignorar a idade avançada da maioria dos animais, tanto que foi dito pelo CRMV que mais mortes poderão ocorrer devido aos exames, tendo em vista a não resistência a anestesia por parte de alguns.

A mais recente aquisição do zoológico de Goiânia: a girafa ‘Tico’ integra a lista de animais mortos neste ano/ Foto: Benedito Braga/DM


O que chama a atenção é a morte de animais de grande porte, muitos em extinção em todo o país. Uma das últimas [e únicas] recentes aquisições do zoológico de Goiânia foi um casal de girafas, algo que durante muito tempo não se viu por aqui, mas que não durou muito: uma delas está na lista das mortes deste ano; um leão, uma onça, um tamanduá-bandeira, um jacaré-açu, uma queixada, uma capivara, dois hipopótamos, mais oito mamíferos, 16 répteis e 16 aves a completam.

A prefeitura ainda não se pronunciou quanto ao posicionamento de que a transferência do zoológico não deve ser feita se permanecer esta margem de investimentos, mas a direção do parque já tomou providencias, colocando, por exemplo, telas que impeçam a entrada de aves (os urubus e os pombos), algo tão simples de ser feito que causa espanto a falta de iniciativa para que esta medida tivesse sido tomada antes. Muito se tem especulado quanto a eventuais maus tratos aos animais: "No plantel do zoológico existem muitos animais idosos. Com a idade mais avançada é natural que eles apresentem doenças e problemas de saúde. Nós até somos a favor que órgãos de fiscalização como Ministério Público Estadual e Federal, além do IBAMA, façam investigações. Só assim as especulações irão acabar.”, declarou o diretor-geral do parque, Raphael Cupertino ao jornal Diário da Manhã.

Mas há toda uma complexidade envolvendo a situação do zoológico de Goiânia, numa série de acontecimentos e decisões que podem deixar muita gente de cabelo em pé e o JE vai voltar neste assunto mais detalhadamente; aguardem novas informações.