sábado, 25 de setembro de 2010

O jornal do futuro e o político que não foi





Por Fernando Galacine
editor do JE em São Paulo

O relógio ainda não marcava 17h e uma notícia começara a invadir as principais redações de jornalismo do país.Aos 78 anos, o candidato ao senado por São Paulo pelo PTB, Romeu Tuma, teria então ido desta para uma melhor _ tendo como saguão de embarque o Hospital Sírio Libanês, no centro da capital paulista. Mentira. Mas uma mentira que custou a ser digerida por repórteres e editores afoitos por confirmá-la _ ou não.

Muito antes do jornal Folha de São Paulo, e respectivamente o portal UOL, publicarem a informação, os principais veículos do país já planejavam quem daria o possível furo. Sim, esta não foi uma notícia planejada exclusivamente pela Folha.

Um caminhão de link de uma importante emissora allnews brasileira já estava a caminho para entrar ao vivo com a morte do político que, por acaso, ainda estava vivo. O que diferenciou a Folha.com das demais foi a simples ação da apuração, da checagem bem realizada. O comum “abrir a boca só se houver certeza”.

Não muito depois do relógio virar 19h _os digitais, claro_ a Folha.com consegue a proeza digna de um jornal do futuro. Matou Romeu Tuma. Este, por sua vez, deve ter exclamado: estou vivo! Foi um efeito dominó.

Minutos depois, bons nomes do jornalismo, como Cristiana Lôbo, da importante emissora allnews brasileira _ que a posteori apagou sua mensagem de repercussão_ e até mesmo concorrentes da Folha de S. Paulo, como o jornal O Globo, começavam a noticiar o que não era notícia. O equívoco.

Imediatamente os celulares dos assessores do político, _ fênix, na opinião de alguns_ do Hospital Sírio Libanês e de quem mais pudesse confirmar a informação que não era informação estavam fora do sistema.

Conscientes que boas fontes não são sempre donas de toda a verdade, uma rápida atualização no site do UOL mostrava que a notícia sumira. E então Romeu Tuma ressurgiu. Indignado, diga-se.

Em conversa com a assessoria do candidato, a indignação também estava presente. “Eles [O UOL] já haviam feito a mesma coisa com o [ex-governador Mário] Covas. Não aprenderam”

A editora responsável pela divulgação da nota passou a noite lamentando-se no Twitter. Não porque isso pudesse custar até mesmo o seu emprego, mas porque matou quem ainda não havia morrido. Em todo caso, se morrido, teria dado o furo. E ambicionando a festa da primazia jornalística, ela se esqueceu que o funeral noticiado ainda não estava previsto.