Com verdadeira obsessão pela perfeição nos Jogos de 2008, Governo da China corre para que a poluição não esconda seus arranha-céus na Olimpíada.
Por Marcus Parmiccato
Para o JE de Xangai
O PIB chinês deverá crescer, somente este ano, algo próximo dos 9,6%. Há trinta anos a economia por aqui cresce nesse ritmo, e de país tipicamente rural, a China é hoje um das novas potências mundiais, local dos mais novos e lucrativos mercados para o que você quiser imaginar, nos mais variados segmentos. Mas o gigante asiático não cresceu a toa. No país do filho único, tudo é comandado há décadas pelo Partido Comunista Chinês, também único. Sem liberdade de imprensa ou sequer eleições, toda e qualquer decisão que envolve a sociedade chinesa é traçada por pouco mais de meia dúzia de senhores não muito simpáticos.
Crescer dentro do partido, formado por milhões de pessoas entre militantes e exército, não é fácil. Mesmo com apadrinhamentos de todos os lados, chegar à elite do Partido Comunista Chinês requer tempo e dedicação, no sentido literal das palavras. A todo instante, os pupilos do partido, saídos do forno de tradicionais universidades chinesas, são delegados a gerenciar e criar megalópoles inteiras a partir de vastos campos de arroz, numa prova que, se realizada com sucesso, é um belo pontapé para o alto escalão do partido, e até quem sabe a presidência, tanto do Partido Comunista, como conseqüentemente de toda a China. Diante disso não é difícil entender os surgimentos de um dia para o outro de grandes arranha-céus, rodovias e milhares de chinocas trocando a sua magrela por um carro, uma demonstração de melhoria do status econômico da população.
Tudo conta para a promoção pessoal do chefe da província dentro do partido. Porém, a explosão de euforia chinesa aliada a métodos politicamente incorretos de construção e de criação de energia, fez do país uma estufa de gás carbônico. Sem ventos fortes, as principais cidades chinesas convivem diariamente com altíssimos níveis de poluição. Dezesseis das vinte cidades mais poluídas do planeta ficam aqui. Resultado de uma política de crescimento a todo custo, que não teve como linha de conduta respeitar nem a população, muito menos o meio ambiente. Com números alarmantes sobre o efeito de toda essa sujeira emitida pela China, o Governo de Pequim arranjou dois bons motivos para se preocupar. De um lado, o próprio Comitê Internacional Olímpico já avisou sobre prioridade da saúde dos atletas em meio a condições desfavoráveis à competição. Do outro, ativistas, chineses, fazem China adentro protestos e mais protestos contra a poluição e seus danos.
E para um país quer mostrar ares de perfeição aos turistas que já começam a desembarcam tanto aqui em Xangai, quanto em Pequim, pior do que poluição e protestos, só mesmo os monges tibetanos. Por enquanto a verba destinada para conter o problema, em cima da hora, é de US$ 10 milhões. Segundo o Governo, a longo prazo outras medidas serão tomadas para que a China, que já deve ultrapassar os Estados Unidos como maior poluidor do mundo em 2010, não suje tanto o planeta. Usinas nucleares deverão ser a prioridade no setor de energia, e o tratamento de esgoto pelo país terá um orçamento de US$ 40 bilhões até 2010. Quanto a construções de prédios, rodovias e chinocas trocando a sua magricela por um carro, o Governo garante que continuarão a acontecer, mas agora defendendo a causa verde, e a vermelha, também.