Por Malu Fontes
Em meio a escândalos envolvendo literalmente montanhas físicas de dinheiro, em espécie, ao vivo e a cores, nada como uma gargalhada diante da já clássica desinformação de Ana Maria Braga ou da sua produção. Volta e meia a apresentadora que usa o papagaio de espuma como apêndice mete o pé na jaca e tome imbecilidades.
Na última terça-feira, entrevistava a jornalista Sônia Bridi, correspondente da Rede Globo em Pequim (China) até recentemente (posto agora ocupado por Pedro Bassan). O programa elevava ao estado de obras de artes todas as matérias produzidas pela jornalista no país das Olimpíadas. Tudo ia muito bem e muito bonitinho, até quando Ana Maria, cedendo à sua desinformação crônica cuspiu algo do gênero: 'nossa, como a paisagem, o sol e a névoa são lindos lá, parece um cartão postal, uma atmosfera deslumbrante'. Melhor ter ficado quieta, mesmo porque até os gansos do Dique do Tororó sabem que diante de toda e qualquer paisagem chinesa, aquele fluido verde do dique está mais para água mineral desengarrafada.
A POLUIÇÃO É BELA - Bridi, certamente constrangida, mas jornalista que é, deve ter se sentido no dever de, ao invés de engolir o elogio a seco, ajeitar a saia a justa e ficar do lado da informação ao telespectador. Com um jeitinho de professora boazinha que acode um aluno tapado que não estudou para a prova mas é boa praça, deu um jeito de dar traduzir o que Ana Maria via como sendo a beleza específicas das paisagens enevoadas de toxicidade da China. Em poucas palavras, esclareceu que, na verdade, a 'beleza' que algumas pessoas podem enxergar nas imagens chinesas, não é beleza, é o excesso de poluição, tão grande que impede que os raios solares iluminem o horizonte, a cidade. Fica tudo turvo. Explicou que aqui, quem tenta olhar o sol, não consegue por um processo de encadeamento, tamanha a incidência direta e a clareza ostensiva dos raios solares. Lá, a poluição é tão grande que o sol não passa de uma bola turva no céu facilmente olhável diretamente sob um turbilhão de névoa cinzenta.
Aprendeu Ana? Será que não bastou a saia justa de se espantar, surpresa, diante da retificação feita por Abílio Diniz, quando este esteve no programa para divulgar um livro seu então em lançamento, sobre o fato de ele ter ficado sob o poder dos seqüestradores "só" uma semana. Como "só" uma semana? Questionou ele. A moça do pássaro de espuma e dos maridos e namorados com cara de bofe caça-níqueis deve achar que seqüestro mesmo, para ser contundente, deve durar vários meses. Mas o fato é que falar de Ana Maria num contexto em que vive a sociedade brasileira e diante dos temas que desfilam todos os dias no telejornal, é quase chutar cachorro morto. Quem se importa com isso, a não ser para desopilar o fígado?
O DELEGADO VAI À ESCOLA – Dantesco mesmo, de ordem tão nauseabunda que leva o telespectador ter desejos de mandar parar o mundo para descer na próxima estação, só mesmo as estapafúrdias explicações, para a imprensa, reproduzidas em larga escala em todos os telejornais, por parte da cúpula da Polícia Federal. Essa informou que delegados envolvidos no comando da Operação Satiagraha, por mera coincidência, se afastaram do caso. O delegado que chefiava a operação, segundo o comando da PF, precisou se afastar do caso para estudar, para fazer um curso de aperfeiçoamento. Pura coincidência, claro. A Satiagraha culminou com a prisão, a soltura, a prisão de novo e a soltura de novo, tudo em menos de uma semana, do mega-banqueiro Daniel Dantas, um dos homens mais poderosos da República.
Dantas tem tanta gente poderosa nas mãos que, por via das dúvidas, quando se trata dele, é melhor se importar mais com seus investigadores, do que com ele, o investigado, tamanho o estrago que pode fazer na vida do país e de muita gente que tem o rabo presíssimo em seus milhões de dólares, distribuídos para abrir portas, calar e fechar bocas e fazer seus negócios caminharem tranqüilos sobre as águas que pode ferrar com a carreira de quem se mete a investigá-lo.
Agora, imagine-se a plausibilidade da coisa: delegados jovens, no auge da carreira, no comando de uma operação que inquieta boa parte do PIB brasileiro e faz 99% dos poderosos em Brasília e nos principais estados da federação (sim, o banqueiro tem fortes braços palacianos também na Bahia), acordaram meio entediados numa terça-feira qualquer e, acometidos de uma certa preguiça de ir trabalhar, talvez, de ver tantos jornalistas falando isso e aquilo da operação, dão uma respirada, tomam um desses iogurtes para pessoas enfezadas e pedem para a secretária marcar um horário com a cúpula da PF para informá-la de que não querem mais brincar de mocinho e bandido com Dantas e sua trupe. Para descansar um pouquinho, no auge do furacão, querem ir para a escola. Plausível, não?
Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 20 de julho de 2008. maluzes@gmail.com