
Afinal, quem tem mais chances de morar na Casa Branca?
Por Fernando Galacine, do JE em São Paulo
A maior nação do planeta faz a maior eleição da sua história. Durante o ano inteiro o mundo estará voltado para os Estados Unidos, seguindo de perto os passos de Democratas e Republicanos. Não por menos. Boa parte dos países, sejam eles desenvolvidos ou não, têm grandes relações com os Estados Unidos, e os que não têm, ainda sim são influenciados na política externa pela Terra do Tio Sam. O resultado das eleições norte-americanas, incluindo as prévias, influencia o Brasil, o mundo e claro, os Estados Unidos. O que pode mudar na política interna, na diplomacia internacional e na sua vida, após Bush sair da Casa Branca, está, literalmente, na mão e no voto de cada eleitor norte-americano.
Uma coisa é certa. Os Democratas saem na frente pela corrida Presidencial. Após oito anos de Governo Bush, os Republicanos estão em baixa entre à população. Tanto que John McCain foi o candidato escolhido entre os republicanos, justamente por chegar mais perto da idéia de oposição à administração do atual Presidente do país. Mesmo não sendo bem visto pela parte conservadora do partido, a que apóia e sempre apoiou Bush, McCain é o que alguns especialistas chamam de Republicano com leve espírito Democrata e, portanto, o que tem maiores chances de representar com êxito as aspirações de seu partido. Tarefa nem tão simples, pois reforçando a idéia de favoritismo dos Democratas nas eleições, basta ver que diferentemente de Bill Clinton, igualmente Presidente dos Estados Unidos por oito anos, George Bush não deve deixar a residência oficial em Washington com a popularidade em alta.
Pelo contrário. Uma investigação publicada no site do Centro de Integridade Pública, em parceria com o Fundo para a Independência do Jornalismo, mostrou que após o 11 de Setembro, Bush e equipe soltaram nada mais que 935 declarações falsas sobre o Iraque e seus envolvimentos com o terrorismo. Isso às vésperas de um pronunciamento anual à nação, onde Bush expôs outra ferida norte-americana: o risco da recessão na economia, algo que certamente não só prejudicará os Estados Unidos, como o mundo inteiro, sejam os países blindados economicamente ou não.
Tudo isso mostrado pela mídia, em pouco mais de duas semanas, fez a popularidade de Bush, que já é baixa, desabar. Prova que certamente um governante com uma libido mais ativa será mais bem lembrado do que um baixinho atolado em dívidas. Ponto para os Democratas, que não tocam no nome de Bush nem sequer para atacar o Governo, ruim para os Republicanos que invocam até Ronald Reagan, Presidente do país durante a década de 80 pelo partido, para servir de exemplo de como McCain pode governar bem os Estados Unidos, mesmo sendo colega de Bush.
Imagem é tudo
Onde os candidatos podem ganhar ou perder apoio.

O que pesa a favor: É muito comunicativo e muito carismático. É o candidato mais jovem e internacionalizado da campanha. Com ascendência queniana por parte paterna e norte-americana por parte materna, Obama já passou temporadas no Quênia junto aos avós e parte a infância na Indonésia. O lucro disso? O candidato é tido como o mais bem preparado quando o assunto é relacionamento internacional, afinal ele sabe muito bem como e o porquê nações nem tão influentes com os Estados Unidos vêem o seu país. Obama também é elogiado por não usar a sua raça para se promover. Ele é um candidato, tem orgulho de ser negro, mas não vê o que isso pode influenciar no resultado.
O que pesa contra: Obama não era tão bem conhecido no país, até se candidatar a concorrer à vaga de representante do Partido Democrata à Presidência. Não tem experiência administrativa, já que seu ingresso na política foi em 2005. Obama também já afirmou ter usado drogas pesadas na adolescência, como cocaína. Vez ou outra o candidato dá declarações excêntricas, como de enviar tropas norte-americanas ao Paquistão para solucionar a crise política que acontece por lá.
Quem apóia: A classe artística de luxo dos Estados Unidos. Incluindo a apresentadora Oprah, a mais rica e poderosa do mundo. Oprah, no entanto saiu um pouco da campanha ao ver que seu público feminino havia ficado contra sua decisão. “Mulheres têm que apoiar uma candidata e não um candidato” diziam as telespectadoras.

O que pesa a favor: McCain é Republicano, mas adota uma postura distante da administração do seu colega de partido, George Bush. Defende a permanência das tropas norte-americanas no Iraque, mas sem abusos de autoridade, como já aconteceu por lá ou até mesmo em Guantánamo, em Cuba. Ele é mais sociável que outros candidatos Republicanos, principalmente em assuntos ligados a imigração, por exemplo.
O que pesa contra: a sua idade, 71 anos. É o mais velho entre os candidatos.
Quem apóia: o candidato desistente, e ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolf Giuliani. Além é claro do comentado apoio dos ‘heróis de guerra’ de Hollywood. Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone apóiam o ex-combatente de guerra.
E o mundo nisso?
A julgar pela soberania que cada país tem ao eleger um representante para governar a sua nação, é pouco provável que o cenário da política internacional mude em relação aos Estados Unidos, na maioria dos países. Mas alguns países têm interesses particulares na eleição norte-americanas. E o Brasil, claro, também tem.

Não será bom: Caso Obama vença vençam e ponha em prática o que prometeu no início da campanha aos estados com maior produção agrícola do país: de ressaltar a proteção aos produtos dessa região, que sofrem com a concorrência de outros gigantes da agricultura, principalmente do Brasil. Em entrevista ao Wall Street Journal, jornal norte-americano, o Ex Primeiro Ministro inglês, Tony Blair, disse aos candidatos a Presidenciável que não adotem medidas protecionistas à agricultura do país.
Será bom: Se John McCain vencer. El apóia uma abertura maior à importação de álcool do Brasil, hoje com tarifa de US$ 0,54 por galão. Mesmo com uma proposta de redução da tarifa de importação do álcool brasileiro pelo Congresso norte-americano este ano, McCain ainda assim garante que pode facilitar a importação do nosso etanol, contrariando o próprio Partido Republicano, que é contra a idéia de McCain. Os Estados Unidos são líderes na produção de etanol no mundo, mas a produção norte-americana é através do milho e a nossa da cana-de-açúcar, muito mais barata e com preço mais competitivo.

Não será bom: caso os Republicanos vençam. Do ponto de vista do eleitor norte-americano, 59% não viram melhoras no padrão de vida do povo iraquiano e por isso são contrários à Guerra. De acordo com a pesquisa, feita em Novembro pelo Instituto Gallup, a pedido da rede de televisão norte-americana ABC e do jornal The Washington Post, 60% dos entrevistados querem uma volta da tropa de soldados dos Estados Unidos, que hoje é formada por 165 mil combatentes.
Será bom: Caso os democratas vençam a disputa e cumpram o prometido. Iniciar a retirada das tropas norte-americanas do Iraque. Essa é a vontade da maioria dos eleitores em relação aos combates. Barack Obama, que não apoiou à Guerra, não deu prazos, mas espera fazer a retirada gradativa das tropas norte-americanas no Iraque.

Com exceção a John McCain, outros candidatos Republicanos, eram bem diretos quanto à imigração: pessoas ilegais no país devem ser detectadas, presas e deportadas. Quem fica, deve pagar multa e falar inglês. Os Estados Unidos contam com uma infinidade de imigrantes que entram ilegalmente pelas suas fronteiras, a maior parte vem de Cuba, e acabam tornando-se exilados políticos, isso quando conseguem pisar em solo norte-americano, do contrário são levados de volta à ilha de Fidel. Atualmente 1,5 milhão de brasileiros vive nos Estados Unidos, mas apenas 400 mil são legalizados. Mas com John McCain provavelmente, nessa área, talvez, não haja motivos para maiores preocupações.
Será bom: Barack Obama defende a permanência, mas diante de multa. Já John McCain diz que é preciso fazer parcerias com os países de onde saem mais imigrantes, para criar programas que melhorem a qualidade de vida da população.
Os números não mentem
A eleição nos Estados Unidos é indireta em quase todos os sentidos. A população norte-americana, através das primárias, vota com o objetivo de cederem delegados que ajudarão agora a escolher um candidato para representar o partido, e depois, em Novembro, votarão num candidato para que o partido vencedor ganhe representantes no Colégio Eleitoral. Ou seja, nada é decidido diretamente. Os votos são representativos desde o início ao final da campanha.
Responsabilidade do mundo
A corrida eleitoral norte-americana ainda vai longe, e é nosso dever prestar muito bem a atenção onde os planos dos candidatos estão divergindo e tirar o lado bom de cada proposta e cada plano. A saída das tropas do Iraque é positiva, mas será que é correto os Estados Unidos saírem às pressas de um país que eles ajudaram a fundar mais ainda? Não será necessário fazer projetos de reconstrução antes de tudo, e garantir além de segurança, dignidade para os iraquianos?
E a questão da economia. Se os Estados Unidos realmente desaqueceram sua economia, se pararem de importar, o que vai acontecer? O Brasil tem mais de 20% da sua produção externa voltada para lá... É bom não achar que estamos blindados a tudo... E a imigração? Os norte-americanos devem fazer o que em relação a isso? Deportar os imigrantes ilegais, ou acabarem adotando de surpresa medidas iguais a da França e da Suíça, que expulsam até quem tem visto e só deixam entrar se você tiver parentescos com alguém nativo do país? Os Estados Unidos ainda ditam muito coisa. Quer você queira, ou não. Encarar as eleições deles com também nossas é o mínimo que se espera num mundo que se diz globalizado.