sábado, 18 de abril de 2009

Lula x Chávez



O JE faz um paralelo dos acontecimentos recentes envolvendo os presidentes latino-americanos do Brasil e da Venezuela e mostra que há algo [ou alguém] que os liga, cada um pelo seu motivo: Barack Obama; e que há, por trás de todas as declarações e posicionamentos, um mesmo objetivo a ser alcançado pelos três: poder.

Por Egnaldo Lopes
editor adjunto do JE, em Goiânia

Enquanto o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, manda prender seus adversários políticos; e a população que lhe concedeu o direito de reeleição por tempo indeterminado, sofre com o aumento generalizado dos preços, o presidente Lula reduz tarifas para vendas de produtos ligados à construção civil e ao transporte; é aclamado pelo líder mais importante do planeta e é ouvido com atenção pelos países mais ricos. Na última semana, o repórter do SBT, Marcelo Torres, entrevistou um conhecido âncora da TV inglesa, que ao responder sobre a declaração de Lula de que a crise é culpa dos “brancos de olhos azuis”, foi enfático: “Nós [, os ingleses,]nos sentimos envergonhados, pois sabemos que é verdade”.



O que Chávez tem com isso tudo? O medo de que o presidente venezuelano crescesse e se tornasse o maior líder da América Latina começou a virar realidade com o aumento do descontentamento do mundo com o país de George Bush, mas a vitória de Obama foi uma frustrante ocorrência que interferiu nos planos de Chávez de se tornar o libertador da região oprimida em que queria ser o líder quase que messiânico, afinal, colocava o ‘inimigo’ sempre ligado à figura do ‘demônio’. Obama, que não quer, evidentemente, Chávez, com sua linha ditatorial amadora, como um líder cujo poder ultrapasse os limites do território venezuelano, adota um discurso conciliador e respeitável para com o resto do mundo, o que não dá margem aos discursos acalorados de Hugo Chávez. E se aproximar de Lula, interessado em se manter no poder (mesmo sem o cargo de presidente da república nos próximos anos), é visto como uma boa saída pelo presidente norte-americano, já que o brasileiro vem adotando um discurso mais moderador, conciliador e responsável, quem diria, o que denota certa maturidade do operário que se tornou o presidente mais popular do planeta, nos dizeres de Mr. Obama.



Postura

O agressivo Chávez está sem ter muito que fazer e torce para que as medidas protecionistas de Obama causem certa insatisfação do mundo que o vê como um líder justo e que coopera para a melhoria das relações internacionais dos Estados Unidos. Enquanto isso não acontece, já que o presidente estadunidense está em alta não só entre seus eleitores, Hugo Chávez se aproxima de duas novas ‘potências’: a China e o Irã. Em visita desde o dia 7 ao país de Mao Tsé Tung, o presidente latino-americano entra em contradição, já que de socialista a China tem apenas o que não interessa à Venezuela, preocupada muito mais com os ensinamentos capitalistas que os chineses podem dar.



Enquanto isso, Lula, depois de se encontrar oficialmente com Obama nos Estados Unidos, ainda é elogiado pelo presidente pop durante reunião do G20: “Ele é o presidente mais popular da Terra” (veja no vídeo abaixo). Sinal claro de aproximação do país mais rico do mundo com o Brasil liderado pelo Lula mais moderado, porém não ingênuo; todos querem ganhar: Obama faz com que Lula se mantenha no posto de maior líder do continente latino, ofuscando Chávez e o nosso presidente deixa claro que os ricos terão que pagar para que ele continue amigo: nada de imposições protecionistas que prejudiquem muito o comércio internacional do Brasil, por exemplo. Na verdade, a imagem de Lula mesmo internamente é mais bem vista, pois ser tratado como o mais importante pelo efetivamente mais importante e popular do mundo não é pra qualquer um e o governo brasileiro comemora.



América Latina

Não dá pra ser reconhecido mundialmente e ignorado na própria casa, e tanto Lula quanto Obama sabem disso: daí os discursos do presidente brasileiro condenando os ricos brancos e de olhos azuis pela crise financeira mundial como disse em visita do primeiro-ministro inglês, Gordon Brawn, ao Brasil, dentre tantas outras declarações em que Lula pôde criticar o FMI e a postura opressora dos países desenvolvidos para com os demais. Isso, é claro, cria em Lula uma imagem de porta-voz não só dos latino-americanos, mas também dos demais emergentes e países pobres; daí ser tão querido na África, por exemplo.

Barack Obama já deu seu recado aos países latino-americanos: estará presente na Cúpula das Américas que acontece entre os próximos dias 17 e 19 de abril em Trinidad e Tobago, como o que chama de ‘sócio’, que irá ‘escutar e conversar’. Será o primeiro encontro entre os presidentes dos Estados Unidos e da Venezuela, e Chávez já se pronunciou recomendando que Obama “não venha impor algo sobre um governo soberano". Dar razão para que o presidente Hugo Chávez dispare sua metralhadora é algo muito improvável: a idéia é realmente mostrar um presidente popular não apenas nos Estados Unidos e na Europa, mas também entre os vizinhos latinos e para isso Lula já sabe que tem que retribuir o favor: agora é Lula quem ‘manda’ na casa e terá que enaltecer Obama diante dos colegas do Mercosul. Lula gosta do apoio de Obama e parece ter aceitado a proposta de acolhê-lo com igual generosidade na América Latina, já que recentemente também o chamou de “um presidente com a cara da gente”, vinculando claramente a imagem de Obama à dos latino-americanos.

Mundo

Até onde vai a amizade com Obama é uma incógnita, mas é fato que Lula ganha força em plena crise mundial. O presidente é bem visto em todos os cantos do mundo e é tido como uma chave para a aproximação dos países ricos com os demais, já que agora entendem a importância de não se isolarem, principalmente de países que tem muito a oferecer, como o Brasil, iminente potência petrolífera, com instituições sólidas, sobretudo bancos (Bradesco, Itaú e Banco do Brasil são, respectivamente, as empresas mais valiosas do país, segundo levantamento da consultoria Brand Finance, divulgado no último 7 de abril).

Já o presidente da Venezuela anda até mesmo esquecido de Evo Morales, pois que sabe que precisa alçar voos maiores, daí a aproximação com países muitas das vezes tidos como ameaças pelos Estados Unidos. Porém, Chávez talvez esteja desapontado ao ouvir declarações de Obama buscando o diálogo com o Irã e os países muçulmanos, além de declarar apoio à criação e um estado palestino, mesmo sem retirar apoio oficial à Israel.

Lula 2011 – 2018?

É repetitivo o comentário do possível terceiro mandato de Lula, mas é claro que isso poderá acontecer, mas não como muitos pensam: Lula não irá se valer de uma mudança legal para poder se candidatar no ano que vem à re-reeleição, mas irá usar de todos os artifícios possíveis para conseguir emplacar Dilma Rousseff na presidência da república, já que outra coisa ela não faria que não fosse seguir suas diretrizes; o presidente continuaria a governar, se preparando para 2014, ano em que se realizará a copa do mundo de futebol que ele conseguiu trazer para o Brasil. E assim, Lula, se tudo sair nos conformes, continua por mais oito anos no poder; Obama e Chávez sabem disso.

Chávez? Só o tempo dirá; enquanto isso os venezuelanos sofrem os efeitos das medidas personalíssimas de um presidente que busca o poder de uma forma ainda muito imatura, porém não mais perigosa, como queria ser visto; vide a compra de armas e equipamentos de guerra pela Venezuela: nada que ameace os planos de Lula e Obama que, por enquanto, se distanciam da imagem ultrapassada de Chávez.