Sem emprego e moradia, decasséguis resistem à proposta de voltar para casa, sob o risco de nunca mais voltarem ao Japão
Por Rosangela Brito,
do JE em Kawasaki
Seis mil reais: a oportunidade de custear a volta para casa e o compromisso de não retornar ao Japão por tempo indeterminado. Nos últimos três meses, a comunidade decasségui, mesmo com contornos de indignação, tem pensado na proposta feita pelo governo de Tóquio que visa enviar descendentes de japoneses de volta aos países de origem.
Desde quando o país chegou ao auge da sua crise econômica e com estrutura afetada para atender à população nativa, o governo japonês tem lançado mão de medidas quase desesperadas para conter o número de desempregados no país.
Não formada apenas por brasileiros, a comunidade decasségui é basicamente composta por peruanos e vietnamitas com descendência japonesa. Sem empregos e sem moradia, já que as residências onde moram muitas vezes são concessões da empresa ao trabalhador, os decasséguis acabam engrossando os números socioeconômicos que causam vertigem ao governo Taro Aso. O primeiro-ministro japonês chegou no final do ano passado juntamente com ações anticrise também polêmicas, como distribuir dinheiro aos moradores de pequenas cidades do interior do Japão, a fim de estimular a economia.
No entanto, bancar a volta para casa desses estrangeiros foi considerada um erro para quem o projeto visava atingir. Dos 300 mil decasséguis, pouco mais de mil e quinhentos aceitaram a ajuda do governo japonês. A maioria sequer cogitou a hipótese de aceitar a oferta, com medo de nunca mais ter visto liberado para retornar ao país. Considerada xenófoba por só auxiliar brasileiros e peruanos, e não outras nacionalidades de decasséguis, a medida não deixa claro durante quanto tempo brasileiros e peruanos terão sua entrada proibida no Japão caso aceitem esse auxílio, admitindo margem a especulações nas quais Tóquio gostaria que essa mão-de-obra, por ora sem utilidade nas inertes fabricas japonesas, não voltasse mais.
Para os poucos decasséguis ainda empregados, agora resta acomodarem-se na casa de parentes e amigos, ou recepcioná-los. As cargas horárias foram reduzidas: os trabalhadores saem às 17h das fábricas e tem geralmente três folgas semanais. Um contraste para quem trabalhava até quatorze horas por dia e sequer tinha um dia inteiro de descanso.