Um provolone no pescoço
Ele se declarou o Jesus Cristo da política internacional; Já chamou Barack Obama de presidente ‘lindo, jovem e bronzeado’. Calma, caro leitor, não começamos nem a falar sobre gafes mais contundentes do político mais nonsense de todos os tempos
Por Fernando Galacine,
editor do JE, em São Paulo
Ele é rico. Muito rico. O décimo homem mais rico do planeta. Talvez a analogia não seja tão perfeita, mas se pudéssemos comparar Silvio Berlusconi a um correspondente brasileiro essa comparação seria Silvio Santos. Assim como seu xará italiano, Silvio é rico, tem muitas empresas no mais variados ramos, entre eles da comunicação, vez ou outra se envolve com times de futebol e até candidata-se a cargos do alto executivo. Mas as semelhanças acabam aí. O Silvio daqui nunca entrou para a política. O Silvio italiano se elegeu três vezes, todas como primeiro-ministro da Itália, cargo só mais baixo que o de Presidente da sétima maior economia do planeta. O Silvio das nossas tardes de domingo tem vida particular reservada. Já a vida do Silvio da terra da macarronada de domingo dispensa comentários. Ou não.
O que torna Silvio Berlusconi uma figura constante nos cadernos de política [e agora porque não, nos de humor] não é sua fortuna. Muito menos como governa um dos países mais influentes da Europa. O milanês de 72 anos sempre foi conhecido por suas gafes, presentes desde seu primeiro mandato, em 1994, e que acentuaram-se ao longo do tempo, chegando a duas ou três mensais, ultimamente.
Que fique claro que Silvio também não é bom governante. Em seus mandatos volúveis, interrompidos ora por acusações de corrupção, ora por pressão interna do próprio governo, o magnata chegou a promover o crescimento zero do PIB italiano, em 2005, quando a economia e as indústrias do país ficaram estagnadas. Elegeu-se novamente primeiro-ministro ano passado, após intensas articulações políticas que o fizeram retornar ao cargo muito antes do que seria possível, em 2010.
>>Leia reportagem sobre as eleições italianas, em 2008
Apesar de não parecer, os italianos sabem o governante que tem e uma básica maioria sente certa vergonha pelos recentes escândalos que envolvem a imagem do primeiro-ministro. E isso não se liga, necessariamente, às imagens de pessoas nuas na beira da piscina da casa de Berlusconi, em Sardenha. Tem mais a ver com o fato das acusações que a imprensa internacional tem feito sobre o envolvimento do dinheiro público nessas bacanais promovidas pelo premiê. Trocando em miúdos, a vergonha dos italianos é da parte que lhes cabe: o dinheiro público. É como se nós, brasileiros, tivéssemos sentindo indignação não pelo fato de algum deputado ter um castelo, mas pelo fato que usou nosso dinheiro para construí-lo.
Indignações à parte, Berlusconi é mesmo uma comédia. Suas gafes vão além do tolerável para um piadista político, ou mesmo um analogista de plantão como o Presidente Lula. No entanto, a crise pela qual sua imagem atravessa é resultado da própria política de censura da imprensa na Itália. As fotos das festa na mansão do empresário no sul do país só ganharam o fôlego que ganharam porque foram publicadas com destaque pelo jornal espanhol El País. O periódico só deu tamanha ênfase às imagens porque conseguiu, com exclusividade, o trabalho de três anos do fotógrafo italiano, Antonello Zappadu, justamente porque jornais da Itália foram proibidos de tratar do caso. Com dimensões mundiais, o caso chamou a atenção e faz o mundo lembrar as gafes de Berlusconi em quase todos os momentos da recente história mundial. Mas é válido lembrar que, agora, nem tudo serão flores: a Procuradoria de Roma já inicia investigações para verificar, entre outras informações, se Berlusconi usou aviões da Força Aérea italiana como transporte dos convidados para a sua bacanal no mediterrâneo. Nada que alguém já acusado de ter ligações com a máfia, como Berlusconi, não suporte. Para quem se comparou, além de Jesus Cristo, a Napoleão, Waterloo está longe.
Do Fundão
Berlusconi e colegas na fotografia oficial do G20, em Londres, aquela na qual o Lula sentou ao lado da Rainha Elizabeth... Após o clique, vossa majestade quis saber quem havia gritado "Ei, Obama!"... Adivinha?