domingo, 4 de outubro de 2009

Tsunami pode atingir o Brasil

Geólogos garantem: Brasil, restante da America Latina, Europa e EUA podem, sim, ser atingidos por uma tsunami.

Ilha da destruição. La Palma, no arquipélago africano de Canários, pode estragar suas férias no nordeste brasileiro. Foto: Satélite Google Earth/JE Imagem

Por Fernando Galacine
galacine@jeinforma.com
editor do JE em São Paulo

A expressão não fazia parte do vocabulário global até cinco anos atrás. Foi em pleno almoço do domingo pós Natal, naquele 26 de dezembro de 2004, que milhões de pessoas associaram as primeiras imagens de destruição na Ásia à desconhecida palavra Tsunami, onda gigante em japonês. A partir de então o termo virou significado de destruição em massa produzida pela natureza.

O desastre, ocorrido no oceano Índico, marcou o início de uma nova preocupação para a humanidade. Não que outras tsunamis não tivessem acontecido anteriormente, mas o de 2004, que atingiu principalmente a Indonésia, o Sri Lanka e a Índia matando mais de 170 mil pessoas, fez com que esse tipo de força natural também merecesse atenção quanto a um sistema de avisos internacional que permitisse poupar o maior número de vidas.

Graças à criação desse sistema foi possível antecipar em algumas horas a chegada de uma grande onda às Ilhas Samoa, no último dia 28, o que evitou uma tragédia.

Geralmente a explicação dada para o surgimento de uma tsunami é a que você provavelmente já encontrou em diversos lugares. As placas tectônicas se chocam porque estão soltas, flutuando em cima do manto de magma que está abaixo da superfície terrestre, perto uma das outras como num quebra-cabeça.

Quando duas dessas placas se chocam acontece um tremor. Se a colisão ocorrer na plataforma continental, haverá um terremoto. Se a colisão da placas ocorrer no fundo do mar, as águas oceânicas simplesmente penetrarão entre as fendas no solo e logo serão expulsas com uma força violentíssima, gerando ondas que ficarão cada vez maiores e mais destruidoras a medida que chegarem perto do continente.

A explicação básica é essa e, por ela, os geólogos garantem que o Brasil está a salvo. No quebra-cabeça terrestre, o nosso país está bem no centro de uma das pecinhas que compõem a figura do mapa-mundi. Ocorrer uma tsunami por aqui, por esse critério, é improvável. Porém, os eventos que podem dar origem a uma onda gigante não ficam restritos aos movimentos das placas tectônicas. Outros tipos de acidentes naturais também podem causar uma tsunami. Dentre um deles, em especial, o Brasil pode ser um dos mais atingidos.

Um estudo da Universidade de Londres em parceria com a Universidade da Califórnia indica que as costas africana, européia e americana, incluindo o nosso país, estão sob risco de serem atingidas por ondas que chagariam, em média, a 20 metros de altura, dignas dos filmes de Hollywood.

A causa desse possível desastre está numa razoavelmente distante ilha perto do litoral africano, a Ilha La Palma, a mais íngreme do mundo.

Situada no arquipélago de Canários, esse pequeno pedaço de terra mantém inativo um gigante que repousa há mais de 550mil anos: o vulcão Cumbre Vieja. Se despertado, esse vulcão pode arrasar a ilhota e fazer um verdadeiro estrago no restante do mundo. Com erupções fortíssimas, o Cumbre Vieja teria força suficiente para arrancar parte da ilha de La Palma e arremessá-la diretamente no Oceano Atlântico.

Essa enorme quantidade de terra teria força para provocar um deslocamento de água colossal. As ondas formadas se moveriam a velocidade de um jato ultrassônico e, no local do deslizamento, teriam quase 900 metros de altura. Os primeiros países atingidos seriam os africanos, especialmente o Marrocos e a Saara Ocidental, varridos por ondas de 120 metros de altura, à velocidade de quase 700 km/h apenas uma hora depois da erupção monstro na Ilha La Palma.

Logo depois de quatro horas as ondas atingiriam parte da Europa. Portugal, Espanha e Reino Unido seriam os mais atingidos. Entre seis e nove horas após o deslizamento em Canários, as ondas começariam a destruir boa parte da America Latina, dos Estados Unidos e Canadá. As ilhas do Caribe, estados como a Flórida e cidades como Nova Iorque seriam gravemente atingidos. No Brasil as áreas mais devastadas compreenderiam o norte e nordeste do país, com ondas próximas a 20 metros de altura.

O arquipélago de Fernando de Noronha seria completamente afetado, com destruição também abaixo da linha d’água, com estrago de corais marinhos, desestabilizando o ecossistema da região. Estados do norte e nordeste seriam invadidos pelas águas quilômetros adentro e áreas com menor elevação seriam submersas, como a capital paraense Belém, praticamente plana e no nível do mar.

A possibilidade de reais impactos aumenta por dois motivos: o primeiro é que o Brasil não conta com alertas de tsunamis, o que faria com que a onda gigante pegasse boa parte da população local de surpresa, caso acontecesse imediatamente em La Palma.

O segundo ponto é que o vulcão Cumbre Vieja, segundo o estudo das universidades anglo-americanas, poderá brevemente chegar ao fim de mais um ciclo de inatividade. A razão para a afirmação é simples: a ilha de La Palma é a que mais apresentou atividades vulcânicas nos últimos 500 anos entre as ilhas do arquipélago de Canários.

No entanto, os moradores do norte e nordeste não precisam andar com bóias esperando o pior. Segundo um dos estudiosos envolvidos na pesquisa, Dr. Simon Day, da Universidade de Londres, apesar de apresentar consideráveis chances, o colapso vulcânico em La Palma será antecedido por pequenos terremotos locais e outras erupções de menor tamanho, todas significativamente monitoradas.

[Como poderá nos atingir]
A tsunami se originará nas Ilhas Canárias, perto da costa da África. No infográfico abaixo você vê como as ondas atingirão três continentes em poucas horas, em especial o que acontecerá quando elas chegarem por aqui.