De Israel, o jornalista Michel Gawendo fala sobre a dificuldade do trabalho da mídia na guerra do Oriente Médio.
Egnaldo Lopes
editor do JE em Goiânia
Correspondente no Oriente Médio desde 2002, Michel Gawendo volta a conversar com o JE, agora sobre os conflitos atuais entre israelenses e palestinos que culminaram na invasão da Faixa de Gaza por Israel. O número de mortes já passou de 500 e mais de 2.000 feridos sofrem com a guerra, até agora. Nosso último contato com o jornalista foi em agosto de 2007, quando discutíamos sobre toda a intolerância existente na região, fazendo um paralelo com o nosso país. Gawendo, àquela época correspondente do SBT, nos contou sobre o conflito entre os próprios palestinos do Hamas e do Fatah, e como é desenvolver um trabalho jornalístico naquela região.
Hoje fazendo parte da equipe do Jornal da Record, o jornalista, que durante os conflitos também colabora com o jornal O Estado de S. Paulo e com a rádio Antena 1, de Portugal, destaca o trabalho da mídia e as perspectivas de paz entre israelenses e palestinos.
JE - Em agosto de 2007, você disse ao JE que os riscos existentes em desenvolver um trabalho jornalístico no Oriente Médio pareciam ser maiores quando vistos de fora e a guerra envolvia um "combate psicológico extremo". Com a explosão da guerra entre israelenses e palestinos, que já resulta em centenas de mortos, quais as suas impressões em relação a toda situação que se desenvolveu de lá pra cá? O que acha que mudou? A mídia ainda tem apoio pra trabalhar aí?
Neste conflito o trabalho da mídia está mais restrito. Israel proíbe a entrada de jornalistas na Faixa de Gaza, e as informações que saem de lá são restritas. Israel também proíbe os jornalistas de se aproximarem da fronteira, mas mesmo assim conseguimos. Depois da guerra do Líbano, em 2006, quando a mídia teve muita liberdade, o Exército israelense mudou sua posição e desta vez o controle da informação está mais apertado. Nas guerras, a informação é uma arma poderosa. Quem controla a informação tem o poder de controlar a opinião pública mundial, que influencia muito nos processos diplomáticos que acompanham os conflitos armados. O controle da informação pode atrasar ou controlar o processo diplomático e também o tempo que os militares têm para manejar as operações no terreno.
JE – Com sua experiência de trabalho desenvolvido em um local de tantos conflitos, a situação atual é a mais crítica que você já enfrentou, profissionalmente?
Sem dúvida é uma das situações mais críticas. A região por onde circulo está sendo atacada por mais de 60 foguetes do Hamas por dia. Estes foguetes não são direcionados e podem cair em qualquer lugar. Mas o lado palestino é mais crítico. Há na Faixa de Gaza apenas algumas câmeras em telhados e em hospitais. Os jornalistas estão pensando antes de tudo em manter-se seguros e não se arriscam a sair nas ruas, que também podem ser bombardeadas a qualquer momento.
JE – Pelo que pode perceber, há esperança de paz entre israelenses e palestinos? Dá pra dizer que alguém sai fortalecido destes novos conflitos?
Numa visão realista, não acredito em paz total, no sentido idílico, entre israelenses e palestinos. O que pode haver é uma trégua duradoura, ou seja, uma situação de "não-conflito". Pode haver cooperação econômica e em outros campos, como no controle dos recursos naturais, já que judeus e árabes compartilham da mesma região geográfica.
Veja abaixo um vídeo da Globo News sobre os ataques de Israel à Faixa de Gaza em 05 de Janeiro: