Texto de Fernando Galacine - J E SÃO PAULO
Se você pensa é porque existe. E a não ser que você tenha surgido graças às inovações científicas, e tenha sido concebido à maneira tradicional, você deve a sua existência ao sexo. Os tabus que ele enfrentou você já sabe, o quanto ele pode fazer bem, e como pensam as pessoas que vivem sem ele é o que você vai descobrir agora.
O sexo sempre teve uma conotação diferente a cada momento da história. Na Grécia antiga, por exemplo, ele dividia a sociedade: orgias eram coisas da elite grega a separando dos trabalhadores e escravos. O sexo naquela época tinha figura religiosa: as orgias eram consideradas festas compartilhadas com deuses, como Afrodite, da fertilidade, e Baco, do vinho, originando daí outro nome: a bacanal. É claro que, biologicamente falando, a maneira de fazer sexo não mudou em nada até chegarmos aos dias atuais: o seu tataravô fazia sexo da mesma maneira que você faz ou fará. Os nossos conceitos é que não continuaram os mesmos. E saiba que nós estamos mais próximos da repressão sexual do que se imagina...
Esqueça a cegonha
Estados Unidos, 1927. Quando o então botânico Alfred Charles Kinsey se casou virgem, aos 25 anos, descobriu que seu pênis, muito maior do que a média, causava enorme desconforto à sua mulher durante as relações sexuais. Kinsey foi então procurar ajuda médica. Não obteve resposta. Sexo naqueles tempos era tratado de forma longínqua pela sociedade e Kinsey percebeu que todos viam no sexo tudo o que se poderia imaginar, menos algo normal. Dr.º Kinsey resolveu estudar o assunto e lançava, alguns anos depois, em 1948, o livro “Comportamento Sexual do Homem”, que rapidamente virou um best seller, mostrando como o americano estava ansioso debaixo dos lençóis à espera de algo sobre o assunto do qual nunca teve coragem de se posicionar publicamente. O que nos mostra como tudo é relativo quando o assunto envolve quatro paredes: até a Idade média, por exemplo, padres, monges e quem diria, os papas, podiam ter uma vida sexual ativa. O celibato, naqueles tempos, não era ordem pregada pelo Vaticano.
Nem pensar
O que você imagina ao ouvir a palavra celibato? Uma vida de punições e sacrifícios? Se pensou, você não foge muito à regra do imaginário popular. Afinal, para nós mortais, não é muito fácil entender como existem pessoas que aceitam numa boa, a idéia de uma vida sem maiores relações afetivas ou amorosas com ninguém. A castidade, coisa que soa até meio celestial hoje em dia, nada mais significa, em termos exatos do Aurélio, a condição de vida de uma pessoa solteira. É claro que a realidade não é esta, e hoje quem é solteiro acaba tendo uma vida sexual muito mais ativa do que a maioria das pessoas casadas. Realidade que se opõe a ditada pela maioria das religiões, que colocam aos seus fiéis como modelo de vida o sexo só depois do casamento. No caso da católica, para os seus cargos hierárquicos, sexo é coisa que não fará parte do cotidiano ligado à Igreja. Pelo menos no Brasil, o catolicismo é a única grande religião que não admite o sexo entre seus representantes. Tanto no judaísmo, quando no islamismo, ou na religião evangélica, rabinos, xeques ou pastores podem ter uma vida sexual tal qual a dos seus seguidores. Mas porque a Igreja proíbe o sexo na vida de seus representantes? “O celibato em nossa religião é uma condição à vida que nós escolhemos para seguir. Ela não foi diretamente imposta. O celibato como opção pode ser feito por qualquer pessoa, sem necessariamente ingressar na vida religiosa.” Afirma o Pe. Márcio Fabri, professor de ética no Centro Universitário São Camilo, em São Paulo. “Um padre recebe o celibato, o religioso pede por ele.” Completa.
E não é preciso mexer muito em nossa memória para citarmos um exemplo bem simples: Gandhi. O líder espiritual indiano fez do celibato um grande aliado das suas causas. E nem pense que isso foi fácil para ele; Gandhi, segundo uma de suas várias biografias, essa escrita pelo jornalista norte-americano Louis Fischer, era um homem extremamente sexuado, com muita libido, que não se acalmou nem após o casamento. A castidade reforçava a paixão de Gandhi por suas defesas sociais: “Renuncie a uma determinada coisa, somente quando desejar tanto alguma outra, que a coisa renunciada nenhuma atração mais exerça, ou quando parecer que ela está interferindo no que é mais intensamente desejado.” Escreveu Gandhi.
Ainda na biografia escrita por Louis um trecho retrata a seguinte recompensa.
“A renúncia apresentava uma vantagem adicional direta: o povo confiava mais nele. Talvez porque tivessem sido explorados e martirizados ao longo de séculos e deixados na dependência irremediável de seus próprios parcos recursos, os indianos encaravam com suspeita as pessoas que lhes ofereciam presentes. Suspeitavam que no ato houvesse interesse pessoal, ou receavam uma armadilha. Achavam difícil acreditar que alguém pudesse dar alguma coisa a troco de nada. Haviam passado por excessivo número de situações em que ricos e os poderosos apenas tomavam, nunca davam. Por essa razão, assim que os indianos se convencem completamente do desprendimento de uma pessoa, cercam-na de devoção desenfreada e de obediência desmedida. Tal foi a recompensa de Gandhi."
Depende do serviço...
No calçadão de Copacabana, no Rio. Nos anúncios de jornais, no Recife. No Centro Velho, em São Paulo. Ela está na esquina, na beira de estrada, na porta do botequim. Todos sabem onde a prostituição existe, mas ninguém a vê. E não é culpa da iluminação baixa das ruas: a prostituição não é encarada como profissão legal nem pelo governo, muito menos pela população. Isto está certo? Garotas, e cada vez mais garotos de programa, merecem ser marginalizados simplesmente por venderem a coisa que talvez seja mais sua, o corpo? Não é de hoje que a questão é discutida e muito menos de forma igual entre todos os países. Uma das profissões mais antigas do mundo é considerada crime nos Estados Unidos, diferentemente da liberal Holanda, onde a profissão é legalizada.
Onde o Brasil entre nessa história? Em lugar algum. O Brasil não entra. Isso porque o país não apresenta nenhuma legislação a respeito desse assunto. Prostitutas e clientes não existem diante das leis. A pergunta que fica é até que ponto isso é bom para os trabalhadores do sexo. Para entender essa questão é necessário um dado importante: por essa falta de posição da sociedade, o Brasil é fortemente associado à prostituição. Não é novidade para ninguém a quantidade de pacotes que vêm do exterior com foco no chamado turismo sexual.
Por temporada, milhares de turistas, na maioria europeus, vêm ao Brasil, especialmente para o Nordeste, atrás daquilo que não encontram em seus países: a mulher feminina. Um contraste claro com as mulheres européias, cada vez mais destacadas em áreas historicamente masculinas. No mundo onde sexo vale dinheiro, garotas de programa lançam mão do pagamento, e clientes gringos passam a se tornar namorados. “Elas preferem se envolver com europeus. Isso acontece porque os brasileiros da região são pouco românticos, e a maioria é machista e violenta, diferentemente dos turistas que são mais carinhosos e menos preconceituosos.” Diz a antropóloga Adriana Piscatelli, em entrevista ao Jornal da Unicamp.
Diante disso é fácil entender a história: a legislação que não prevê punições contra crimes a prostitutas e nem dá amparo legal a elas, faz com que o país seja líder no ranking que mede as nações que mais exportam serviços sexuais no mundo. E nem ache que elas são forçadas a isso. “As que manifestam o desejo de migrar, disseram que, se a oportunidade surgisse, o fariam voluntariamente.” Afirma Adriana.
E não é só...
Esquecendo o lado burocrático do sexo, saiba que ele faz muito bem à saúde. Os benéficos que o sexo pode trazer são tantos, que a sua cama vai se transformar numa farmácia.
Benefícios?
Nem sempre a palavra sexo é sinônima de prazer, pelo menos não para um determinado grupo de pessoas que vêem o assunto como algo complicado e difícil de explicar. São os viciados em sexo. Pessoas que apresentam essa doença, até classificada pela Organização Mundial de Saúde, não conseguem passar um dia sem ter relações sexuais com alguém. E para elas nessa necessidade vale tudo: transar com gente que nunca viram na vida, ou passar o dia na internet vendo páginas pornográficas, são comuns no cotidiano dos ‘sexomaníacos’.
Para isso, existe um grupo de apoio, com modelo baseado na idéia de outro vício: o alcoólico. O D.A.S.A., ou Dependentes de amor e sexo anônimos, buscam reunir, em quase todo o Brasil, pessoas que sofram dessa doença, que atinge de 4% a 6% da população segundo dados informais. Gente famosa, como o ator Michael Douglas, está nesse grupo. Sua mulher, a atriz Catherine Zeta-Jones, já sabendo da internação do marido por esse vício, em 1994, fez uma cláusula interessante no seu contrato de casamento: caso haja uma pulada de cerca por parte de Douglas, Catherine receberá alguns milhões a mais em sua conta bancária. O que ainda não aconteceu.
E por isso mesmo o lema, tanto de Michael, quanto de todos que freqüentam o grupo de dependentes sexuais, é o mesmo: 24h a mais sem o vício. Para eles, voltar a encarar de maneira normal o sexo como os seus pais, avós e a torcida do Maracanã encaram, não tem preço.